Agosto chega trazendo o espetáculo Terra Desce para o Teatro Futuros. A peça, que narra a trajetória do primeiro europeu a assumir a paternidade de um filho com uma indígena Maracajá, estreia no dia 3 de agosto e permanece em cartaz até 17 de setembro, de quinta a domingo, sempre às 20h. O espetáculo é uma realização da companhia teatral Aquela Cia e tem patrocínio da Oi e da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, e apoio cultural do Oi Futuro.
Os ingressos para o espetáculo custam R$ 60,00 (inteira) e R$ 30,00 (meia) – adquira aqui
A história de Terra Desce acompanha o marinheiro português João Lopes, exilado no Brasil como punição por traficar machados para indígenas e considerado um traidor dos europeus. Ele estabelece contato com a aldeia Maracajá, na Ilha do Governador, e se relaciona com uma indígena, com a qual tem um filho. Este fato é considerado o primeiro registro de mestiçagem entre um homem europeu e uma indígena.
Quatro anos depois, uma embarcação espanhola chega ao Brasil, rouba toda madeira (Pau-Brasil) e leva João Lopes com eles. O marinheiro volta para a Europa, mas depois tenta retornar ao Brasil para rever o filho. “João consegue retornar nas caravelas de Fernão de Magalhães, uma vez que ele sabia que a expedição passaria pelo Brasil. Convence a expedição a parar no Rio de Janeiro para abastecer, pegar mantimentos, mesmo depois de ter parado em Salvador, e ficam por duas semanas na cidade. Nessa parada, ele reencontra o filho e resolve levá-lo para a Europa”, explica o diretor Marco André Nunes, que destaca que a ideia da peça surgiu a partir do estudo de outro espetáculo da Cia, Guanabara Canibal, de 2017.
Terra Desce tem texto de Pedro Kosovski e é uma realização da Aquela Cia, companhia teatral com mais de quinze anos de atividades ininterruptas e reconhecimento nacional e internacional da crítica e público, tendo recebido os principais prêmios de teatro do Brasil. A peça dá continuidade à trajetória artística dos espetáculos ‘Guanabara Canibal’, ‘Caranguejo Overdrive’ e ‘Cara de Cavalo’, que formam a Trilogia Carioca.
“A criação tem como ponto de partida as narrativas da colonização do Brasil posicionando crítica e poeticamente personagens e acontecimentos históricos sob à luz da atualidade. Com uma dramaturgia tensionada entre a fabulação e a memória histórica e uma encenação em que a fisicalidade dos intérpretes, a performance musical e visual têm primazia”, revela Pedro Kosovski.
Uma “pegadinha” na peça
O espetáculo se inicia com Guida Vianna e Ricardo Kosovski interpretando dois atores que há quatro décadas tentam realizar uma peça que narra a história de João Lopes e seu filho, “Joãozinho”. “Eles estão em uma sala de ensaio e há 40 anos ensaiando a mesma peça. Ao mesmo tempo, a obra é uma oportunidade de narrar a história do Brasil a partir do olhar de dois atores mais velhos, inclusive sobre si próprios, quase como antropólogos de si mesmos, como se o teatro fosse uma aldeia”, afirma Pedro Kosovski.
Segundo a direção, em determinado momento há uma intervenção na cena que subverte radicalmente o olhar colonizador da história. “A peça tem essa pegadinha, como se fosse uma peça de dois brancos, mais uma vez, contando a história da colonização do Brasil, mas há um agente surpresa que toma o protagonismo da cena e inverte a ótica sobre a história.”, acrescenta Marco André.
O espetáculo também projeta uma utopia social, como preconiza Darcy Ribeiro, em que o Brasil seria um lugar de encontro das raças, com reparações a serem feitas, mas ao mesmo tempo com a ideia da invenção de um país. “Acho que a peça propõe pensar nisso. ‘O que se faz a partir desse encontro?’ O Darcy também é uma referência até no sentido crítico”, conclui Pedro Kosovski.
De pai para filho
Um dos atores em cena no espetáculo é Ricardo Kosovski, pai do autor da peça, Pedro Kosovski. Ele celebra os encontros que são realizados durante a apresentação. “Esse projeto constitui um triângulo muito poderoso, que envolve uma questão fraterna em relação à Guida [Vianna], que é minha irmã teatral, minha irmã artística, desde a década de 70. Nós temos um convívio geracional de atravessarmos um período da história. Tem também uma questão paterna muito forte, que é trabalhar com Pedro, meu filho. Esse projeto segmenta uma parceria que já vem de muito tempo, a parceria artística. É pai e filho dentro de uma sala de ensaio, artisticamente”, aponta Ricardo.
Guida Vianna, atriz que contracena com Ricardo Kosovski, lembra que a peça retrata a história de um dos primeiros mestiços registrados no Rio de Janeiro e ilustra todo um país, marcado pela miscigenação. “A partir de uma fábula do ‘primeiro carioca’, podemos falar de nós, do Brasil, dessa utopia mestiça. Como o reencontro meu e de Ricardo no palco ficou muito forte, surgiu ainda essa sala de ensaio, onde redescobrimos o mesmo amor e entusiasmo pelo teatro que compartilhamos desde a década de 70. Estamos há quase 50 anos nos dedicando a essa ficção de nós mesmos”, comemora a atriz.
“Estamos muito satisfeitos em receber no Futuros – Arte e Tecnologia um espetáculo que conta um pouco da história do nosso país de maneira tão singular. A Terra Desce se insere de forma muito orgânica na programação diversa do centro cultural que apoia a criação e a pesquisa de linguagem. Temos certeza que será um encontro instigante entre obra, público e artistas”, declara Felipe de Assis, diretor artístico do Futuros – Arte e Tecnologia.
Terra Desce
De 3 de agosto e 17 de setembro – De quinta a domingo – às 20:00
Teatro Futuros – R. Dois de Dezembro, 63 – Flamengo, Rio de Janeiro
Ingressos: R$ 60,00 (inteira) / R$ 30,00 (meia)
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FICHA TÉCNICA