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ASSOCIAÇÃO RÁDIO COMUNITÁRIA CAMPESTRE FM É DESTAQUE NA REVISTA AREDE

26/03/2013

ASSOCIAÇÃO RÁDIO COMUNITÁRIA CAMPESTRE FM É DESTAQUE NA REVISTA AREDE

Criada há quase 15 anos, a Associação Rádio Comunitária Campestre FM opera na cidade de Campestre, no interior do Alagoas, levando informação, cultura e serviços de utilidade pública e fazendo a diferença na vida das pessoas da comunidade.

O projeto, selecionado no programa Oi Novos Brasis, oferece cursos e oficinas de capacitação profissional e se tornou um ponto de encontro para os jovens que moram na cidade.

Confira na íntegra reportagem que saiu na revista ARede:

 

O CANAL DAS EMOÇÕES

Uma rádio de alto-falantes se transforma em polo cultural e de formação de jovens no interior de Alagoas

Por Rafael Bravo Bucco

 

A vida dos jovens da cidade de Campestre (AL) ganhou mais emoção há 14 anos, quando uma rádio comunitária obteve licença para funcionar na faixa dos 87,9 MHz. Além de levar entretenimento à comunidade, a emissora se tornou um núcleo de capacitação e produção cultural que atrai principalmente a moçada da região. Fundada pelo radialista e historiador Buarque Júnior, começou na década de 1990, com alto-falantes espalhados pelas ruas e praças.

Hoje, a Associação Rádio Comunitária Campestre FM é mais do que uma estação com 25 watts de potência. Quando os locutores anunciam:  “Campestre FM, o canal das emoções”, eles estão sintetizando muitas atividades que mexem com a vida das pessoas. Ponto de cultura, telecentro, gráfica rápida, produtora de áudio e vídeo, centro de recuperação de computadores – tudo se concentra na sede da associação. Ali, Júnior passa os dias arquitetando projetos para jovens em situação de risco ou matriculados no ensino público. Ele e sua equipe buscam apoios que permitam ações em benefício da comunidade local.

Entre os parceiros que já aderiram à proposta, estão Fundação Banco do Brasil, Oi Futuro, Petrobras, Ministério do Desenvolvimento Agrário (por meio do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), Ministério da Cultura (Cultura Viva), para citar alguns. Nos programas, os adolescentes não ficam só na teoria. Botam a mão na massa! Ou melhor, nos microfones, nas mesas de som, nos computadores, após passar por oficinas nas quais aprendem os segredos de profissões como pauteiro, repórter, cinegrafista, locutor, sonoplasta, roteirista.

Foram mais de dez capacitações de educomunicação realizadas pela associação até hoje: Replicadores (1 e 2), Replicadores na TV (1, 2 e 3), Estação Digital, Cultura (1 e 2), Cremicro, Ondas da Rádio, Cyberela, Produtora Video/Audio, Guardiões do Vale do Jacuípe. Em todas as atividades, os jovens são preparados para lidar com ferramentas de tecnologia e comunicação para produzir conteúdo e refletir sobre suas realidades e sobre as políticas públicas referentes às questões da vida cotidiana.

Contra enchentes
Um bom exemplo é o mais recente programa da Associação: Guardiões do Vale do Jacuípe. Jovens de Campestre e de outras quatro cidades (Colônica Leopoldina e Jacuípe, em Alagoas, Xexéu e Água Preta, em Pernambuco) vão a comunidades afetadas pelas enchentes do rio Jacuípe registrar as condições de vida da população. Ali, fazem entrevistas em áudio e vídeo, produzem matérias para a rádio e publicam videorreportagens nas redes sociais (Facebook, Youtube, Twitter). Júnior espera que esse material possa ser usado no futuro para a criação de mini documentários.

“A formação envolve 50 jovens que aprendem a fotografar, filmar e produzir as reportagens. Eles captam informações com o Ibama, com a defesa civil e outros órgãos especializados. Uma das propostas é informar sobre riscos de enchentes, muito comuns. Também acompanham as questões ambientais, observando se há queimadas ou mortandade de peixes. Uma prévia do material será apresentado em abril, em um seminário sobre o Vale do Jacuípe, que terá representantes de governo”, conta o idealizador da Campestre FM.

O Guardiões do Vale do Jacuípe teve início em setembro de 2012 e deve ser concluído em novembro deste ano. Faz parte do Projeto Novos Brasis, patrocinado pelo Instituto Oi Futuro. “Já pedimos replicação para mais 15 meses”, observa Júnior, que espera, caso obtenha prorrogação do apoio, lançar um livro digital e impresso. Ele sonha com a possibilidade de multiplicar o conhecimento.

Se for extendido, os jovens da primeira fase podem dar continuidade e repassar o que aprenderam a uma nova turma, formada por estudantes de comunidades situadas em bacias hidrográficas de outros rios da região, como Manguaba, Una e Camaragibe. A resposta ao pedido de continuidade de projeto, informa o Instituto, virá até o final de março.

O funcionamento do Guardiões é simples. Representantes da Associação, no caso o próprio Buarque Júnior, e alguns dos jovens que atuam na rádio comunitária, na produtora de áudio e vídeo e na gráfica rápida, foram a escolas públicas convidar alunos do segundo e terceiro anos do ensino médio a participar do programa. Assim que reuniram o número necessário de interessados, profissionais de rádio e TV, meteorologia, psicologia, engenharia ministraram oficinas na sede da Associação. Os jovens das cidades vizinhas foram a Campestre, onde tiveram três dias de oficinas. Até hoje passam por capacitações, caso outros profissionais topem encontrá-los para novas conversas.
“Fizemos o encontrão e agora segmentamos, indo com grupos de jovens aos lugares. Estamos levando o socorro, a prevenção e a cidadania. Vamos vasculhar toda a comunidade ribeirinha, para que tenhamos um grande resultado em novembro”, diz Júnior. Na bagagem, a moçada leva câmeras, microfones e computadores. Depois das visitas a regiões mais atingidas pelas enchentes, ou a pontos estratégicos, como a nascente do rio Jacuípe, os grupos de cada cidade ganham autonomia para cobrir os eventos relacionados às cheias. Enviam pelo Facebook boletins meteorológicos, alertando para riscos de enchentes quando o tempo piora, e escrevem matérias ao menos uma vez por mês sobre as condições locais.

Joana Gleyze da Silva, 16, aluna do 3º ano do ensino médio em Colônia Leopoldina é uma dos quatro jovens da cidade que participam do Guardiões. “Quando eles não estão por aqui, tudo o que for notícia a gente manda por Facebook ou celular. A gente pensa nas pautas, se junta e vai fazer as matérias. Mandamos fotos e textos. Como aqui é onde fica a nascente do rio, a gente avisa se houve chuva, pois isso impacta as próximas cidades do Vale”, explica. Filmagens, mesmo, Joana só faz quando o pessoal de Campestre vai à sua cidade para encontros. “Faço entrevista, redação e tiro fotos”, conta. O próximo passo, diz, vai ser marcar uma reunião com a prefeita de Colônia e pedir que a cidade ganhe também uma rádio comunitária como a de Campestre. “Informação sempre é bom, se pudermos levar o máximo de informação precisa e verídica, é o mais fácil para alertar a comunidade”, diz a jovem, que vai fazer faculdade de direito em Maceió.

Articulação como segredo
O crescimento da Associação está alicerçado, em grande parte, na capacidade de articulação e de captação de parcerias. A primeira iniciativa de inclusão foi digital. Em 2005, Júnior procurou a Fundação Banco do Brasil (FBB) e conseguiu uma Estação Digital, com 11 computadores rodando Linux (Ubuntu). Em 2010, o telecentro passou por uma revitalização, com atualização de equipamentos promovida pela FBB.

Desde então, novos projetos surgiram ano a ano. Em 2011, Júnior e os jovens entraram para o mundo do audiovisual e criaram uma produtora (ver quadro na página 42). “Eles fazem alguns milagres”, comenta Paulo Nishi, assessor na gerência de educação e tecnologia inclusiva da FBB. “Conseguiram sustentabilidade, articulando outros parceiros. Estão sensíveis a novas ideias, o que é importante, e sempre estão propondo algo novo. Acertam nas parcerias e articulações, na empatia com a comunidade, que participa e se mobiliza, e na gestão da organização, feita com boa comunicação”, resume Nishi.

No Oi Futuro, a Associação de Campestre é um caso de sucesso. O instituto patrocinou três programas de múltiplas fases em cinco anos de parceria, pelo Programa Novos Brasis – que seleciona projetos em todo o país e os apoia por 15 meses – e pelo Fundo da Infância e Adolescência – que repassa verbas para prefeituras aplicarem em programas para a juventude.

Nesse tempo, foram 850 jovens capacitados a produzir conteúdo audiovisual. “Desses, pelo menos 50 foram inseridos no mercado de trabalho. Outro impacto positivo é a formação dos multiplicadores”, comenta Rafael Olivo, diretor de programas e projetos do Oi Futuro. E completa: “Esses projetos têm a chancela do conselho municipal da criança e do adolescente. Um projeto que é pensado para a realidade de Campestre, em linha com o plano decenal para as crianças e adolescentes daquela região”.

www.campestrefmnet.com.br
www.youtube.com/campestrefmnet
http://on.fb.me/V8GtxW

Profissionalismo
Além da rádio comunitária e do telecentro, na Associação também funciona a produtora Cparte, tocada pelos jovens sob orientação de Júnior. Com os equipamentos da produtora (que tem computadores com softwares licenciados, de edição de imagens e vídeos, e ilha de edição) eles botam em prática o Replicadores na TV, projeto que ensina 25 jovens de 12 a 17 anos a produzir conteúdos em vídeo, principalmente reportagens.

“Ano passado, eles fizeram a cobertura da 9ª Conferencia Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, que aconteceu em Brasília (DF). Foi um sucesso no empoderamento infantojuvenil”, lembra Júnior. Os enviados especiais de Campestre fizeram um blog, trabalharam com agências nacionais, e sua atuação foi noticiada até na TV Cultura, de São Paulo. “Alguns jovens fizeram coberturas para outros veículos. Uma menina cobriu para uma agência da Amazônia”, conta Júnior.

A cobertura foi feita em parceria com a Viração Educomunicação, que levou Mariana Buarque, 16, filha de Júnior, ao evento. Como já trabalhava na rádio, quando desembarcou em Brasília, foi direto cobrir o evento usando o rádio como mídia. “Fiz podcast durante toda a conferência”, conta. Em sua experiência em Campestre, sempre teve que se desdobrar para conseguir fazer programas como ensinado nas capacitações. “Ele [Jr.] exige profissionalismo para que a gente se prepare para o mercado de trabalho que vai enfrentar”, conta.

Atualmente, o Replicadores pretende produzir mini-documentários sobre cidadania e ambiente. Os jovens farão tudo: produção, execução, edição, finalização e publicação em mídias sociais e em canais da TV pública. Um vídeo sobre bullying já pode ser conferido no Youtube. Tudo isso é feito com um acesso limitado à internet. A Associação é servida de um link do Gesac desde 2004, com velocidade de apenas 256 kbps. Apesar da baixa velocidade, os jovens conseguem subir os vídeos, no Youtube. Mas haja paciência… “São 30 máquinas dividindo os 256 kbps”, comenta Júnior. Para driblar as dificuldades, a moçada espera para postar vídeos  depois das dez da noite. Dá para entender porque é grande, em Campestre, a torcida para chegar logo a banda larga.

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