BÁRBARA BOF: “O FETO É UM ENCONTRO DO TEATRO CONSIGO MESMO”
03/10/2013
Sócia-fundadora da Associação No Ato Cultura Educação e Meio Ambiente, onde atua na coordenação geral dos projetos, Bárbara Bof é atriz, formada na Fundação Clóvis Salgado, e bacharel em Gestão em Comunicação Integrada, pela Pontifícia Universidade Católica/MG. Fez parte da comissão de seleção e júri de diferentes festivais estudantis do país. Como idealizadora e coordenadora do FETO – Festival Estudantil de Teatro, ela conversa sobre o evento, em mais uma edição no Oi Futuro.
OF. Como surgiu o Festival Estudantil de Teatro e qual a sua grande importância?
BB. O FETO – Festival Estudantil de Teatro surgiu em 1999, da vontade de criar um espaço para quem tinha o teatro como parte de sua formação. Já na primeira edição, ocupamos dois importantes espaços de Belo Horizonte – o Teatro da Praça e o Teatro Casanova – em sessões lotadas, com envolvimento de 161 estudantes e público de aproximadamente duas mil pessoas. O enorme interesse, tanto do público quanto dos participantes, deixou clara a relevância do festival como lugar essencial de troca. Treze edições depois, a gente sente que o FETO já se firmou como um espaço de valorização, visibilidade e fomento do teatro produzido nas escolas, universidades e cursos livres e técnicos do país. Seus onze dias de programação permitem/estimulam um olhar sobre como o teatro tem sido feito e pensado hoje no país. Não somente para os artistas e grupos, mas também para pesquisadores do teatro e público em geral, esse é de fato um momento muito especial, é um encontro do teatro consigo mesmo.
OF. Quais as principais novidades do FETO 2013?
BB. Todo ano o Festival é diferente, já que apresenta um panorama nacional da produção teatral em um ambiente de reflexão. Cada edição, portanto, traz novos e diferentes apontamentos, o que lhe garante um permanente frescor. O Festival é feito pelos grupos selecionados; o que fazemos é, a partir da seleção da mostra estudantil, estruturar ações formativas e reflexivas que condizem com a realidade apresentada por eles. Também pensamos sobre o que está acontecendo no país, na cidade e na cena teatral, cultural e artística. Propor debates, oficinas e CaFETOS sobre temas de interesse dos grupos e que, ao mesmo tempo, dialogam com os desejos da cidade é um grande desafio todos os anos. Uma alteração significativa na estrutura do FETO deste ano é a realização, uma semana antes da programação oficial, do que chamamos de oficinas de multiplicadores, voltada a crianças e adolescentes. Percebemos que após o fim dessas atividades – que se davam junto com o encerramento do Festival – os participantes ficavam ansiosos por fruir mais teatro. Ouvíamos uma pergunta recorrente e em tom de frustração: “quando terá teatro novamente?”. Resolvemos aproveitar um pouco desta energia que existe durante a oficina e oferecer a oportunidade de vivenciar um Festival inteiro tão logo essas atividades se encerram.
OF. E a parceria FETO e Oi Futuro?
BB. Desde sua criação, o FETO observa as ações e pleiteia espaço no edital do Oi Futuro. O próprio nome do Instituto é inspirador e guarda bastante afinidade com nossos princípios e missão. Além disso, mais que conseguir recursos financeiros, sempre foi um desafio desmistificar a palavra estudantil como algo menor, sem importância ou que mereça menos atenção do “mercado”. Quando, há anos, nos deparamos com a criação de uma instituição que busca trabalhar o futuro, refletimos: pensar o futuro é trabalhar com os jovens do presente. Dar atenção às crianças e a pessoas em formação. Esse é o nosso lugar. Todos os projetos da Associação No Ato trabalham na formação, na base. Buscamos pensar formas de atuar hoje que contribuam com nossos diversos públicos na construção de seu futuro, sua formação e oportunidades, dando-lhes subsídios para trilharem seus caminhos de forma crítica. Foi portanto com uma alegria especial que recebemos a aprovação do FETO no edital do Oi Futuro. Além disso, a aproximação com o Oi Futuro Belo Horizonte se deu sempre de forma sadia e respeitosa. É uma alegria estar naquele lindo espaço, com pessoas que, hoje podemos dizer, pensam o futuro de jovens – ou nem tão jovens assim – artistas e gestores da cultura brasileira.
OF. De que forma o FETO vem contribuindo para fomentar a criação artística no meio estudantil?
BB. A proposta do FETO sempre foi a de ser um lugar de troca. Talvez para muitos o interesse mais imediato seja a oportunidade de se apresentar dentro de uma estrutura adequada, item raro ou inexistente em muitas cidades do país. Tanto que a existência do festival por si só já é responsável por mobilizar grupos, diretores, dramaturgos, professores, etc. a produzirem novos espetáculos. Mas todo nosso trabalho é para que se haja uma vivência ainda mais rica no FETO, para quem se apresenta e para o público também. O Festival promove uma reflexão sobre os trabalhos apresentados, seja por meio do olhar de estudiosos e profissionais da área que oferecem análises, críticas e resenhas, seja por meio de debates entre os próprios grupos participantes do Festival. Esses diálogos e encontros alimentam e enriquecem os processos e experiências do fazer teatral.