CHICO DUB SOBRE O NOVAS FREQUÊNCIAS:
26/11/2014
“O Oi Futuro é a nossa base, nosso laboratório…”
Formado em Publicidade & Propaganda pela PUC-RIO, Chico Dub é produtor cultural e pesquisador musical, com especialização em música contemporânea e performance. Assina a idealização, a direção artística e a curadoria do Novas Frequências, festival internacional de música de vanguarda conectado às novas tendências musicais, que chega ao Oi Futuro pelo quarto ano consecutivo.
OF. Além do Novas Frequências, você já assinou a curadoria e a direção artística de inúmeros festivais e outros eventos de grande expressão na cena musical contemporânea. O que representa a música para você?
CD. Mesmo correndo o risco de soar piegas, simplesmente não tenho como responder outra coisa a não ser o seguinte: música é vida pra mim. Porque de um lado tem a paixão – escutar música e pesquisar sobre música é a coisa que mais gosto de fazer. E de outro tem o trabalho – desde 2004 vivo em torno da música, primeiro criando festas e tocando na noite e depois entrando no universo da produção cultural, sempre voltado para o eixo vanguarda/ experimentalismo/ novas tendências.
OF. Como você mesmo já afirmou, seus artistas normalmente rompem com fronteiras pré-estabelecidas em busca de novas linguagens sonoras. Como acontece esta seleção?
CD. É uma seleção muito difícil e complexa de ser feita. Primeiramente porque o público deste tipo de proposta ainda está em formação no Brasil. Trabalhamos com artistas que nunca vieram para o país; artistas que no geral são desconhecidos do grande público. Ao mesmo tempo, esse desafio faz parte da própria linguagem do Novas Frequências. Ele quer (e vem conseguindo) ser um festival totalmente único no mercado de eventos internacionais no país. Não é à toa que estamos ganhando reconhecimento em casa (o “Melhor Festival do Rio de Janeiro”, de acordo com o Prêmio Rio Noite) e no exterior (somos o primeiro membro brasileiro da rede internacional de festivais ICAS – International Cities of Advanced Sound). Para o Novas Frequências, muito mais importante do que trabalhar com artistas conhecidos e hypados é buscar outras formas artísticas que não as comuns; sonoridades essas que se aproximam muito mais do panorama da arte contemporânea (via arte sonora, arte digital e música contemporânea de vanguarda) do que do mercado de entretenimento.
OF. Fale sobre esta quarta edição do Novas Frequências, que chega ao Oi Futuro, agora em dezembro.
CD. É sem dúvida a maior e melhor edição do Novas Frequências desde a sua criação em 2011. No ano passado, esboçamos um aumento no formato do festival que se estende ainda mais este ano. Ocupamos hoje, em 2014, além do Oi Futuro Ipanema, outros 5 espaços da cidade. E cada um deles com características distintas. Temos festas (La Paz Club), discussões sobre processo artístico e música contemporânea (POP), concertos de piano preparado, erudito e de música contínua (Teatro Sérgio Porto), um panorama da música brasileira experimental (Casa Daros) e novas explorações rítmicas (Audio Rebel). Isso sem contar 4 oficinas, 2 residências artísticas e uma caminhada sonora (ou melhor, “silenciosa”, a cargo da artista plástica Vivian Caccuri). Acontece de tudo um pouco no Oi Futuro Ipanema – nossa base, nosso laboratório, nosso principal palco. Das tapeçarias meditativas do Laraaji aos sons ambientes da urbe gravados em fita cassete pelo japonês Aki Onda. Do diálogo jazzístico dos ingleses John Butcher & Mark Sanders com a música sufi do início do século XX ao violão de 4 cordas punky e bluesy do norte-americano Bill Orcutt. Do folk dinamarquês tocado em um customizado órgão de flautas de Frisk Frugt à música ambiente eletrônica do finlandês Vladislav Delay. Dos ruídos sintéticos entre o metal e o noise do australiano Ben Frost ao inusitado tratamento sonoro de discos de vinil realizados pelo britânico Philip Jeck.
OF. Como você situa o Brasil em relação à música de vanguarda?
CD. Graças a agentes culturais como Quintavant, Brava, Norópolis, Desmonta, Ibrasotope Dissenso e Eletronika; selos como QTV, 40% Foda/ Maneiríssimo, Arrastão, Beatwise, Seminal Records; casas como Audio Rebel, Casa Nam, Espaço SA; e festas como a Wobble, Metanol FM e Colab 011, o panorama é infinitamente mais amplo que o de 4 anos atrás, quando o Novas Frequências começou. Isso mostra um crescimento bastante significativo da cena. Evidente que ainda falta muita coisa: mais mídia, mais investimento público e privado, mais espaços, mas reconhecimento… Mas sou um otimista, considero que estamos avançando cada vez mais e ficando mais conhecidos dentro do país e no exterior.
OF. Algum projeto especial para 2015?
Ampliar o intercâmbio do Novas Frequências com o ICAS e outros festivais internacionais, possibilitando assim o comissionamento de projetos especiais e a possibilidade de viajar com artistas brasileiros para o exterior. Em paralelo, colocar de pé um projeto de arte sonora, desenvolver um programa de rádio e uma revista trimestral dedicada à música contemporânea. E, finalmente, montar uma programação de ponta para o Novas Frequências 2015, afinal de contas, será o nosso 5º aniversário!