Museu é lugar de futuro: pesquisa exclusiva traz tendências
24/05/2019
A relação da maior parte dos brasileiros com o museu nasce com a escola, o que muitas vezes contribui para uma visão de que museus são locais com regras rígidas, onde não se pode tocar em nada nem fazer barulho, e onde a aprendizagem ocorre de forma passiva, tendo como objetivo a transmissão de conhecimentos a serem cobrados em provas. Esse resultado foi um dos encontrados na pesquisa “Museus: Narrativas para o Futuro”, desenvolvida pelo Oi Futuro em parceria com a Consumoteca. No levantamento, 55% dos entrevistados disseram ter tido o primeiro contato com museus em excursões escolares. O estudo aponta para a necessidade de as instituições colocarem a criança no centro do dia a dia do museu, investirem na preparação dos professores e na participação das famílias, incluindo-os todos nos movimentos de criação e recriação do museu, para que a comunidade se veja representada naquele espaço de pesquisa e conhecimento.
O tema da escolarização foi um dos debatidos durante a mesa de apresentação da pesquisa, em evento com casa cheia no Centro Cultural Oi Futuro. No painel, mediado pela museóloga do Museu das Telecomunicações, Bruna Cruz, estavam o antropólogo da Consumoteca responsável pelo projeto, Michel Alcoforado, a historiadora e coordenadora do Memorial da Resistência, Marília Bonas, e o diretor do Museu da República, Mário Chagas.
“A relação da maior parte dos brasileiros com o museu nasce com a escola. Mas será que eu posso ir para o museu sem a obrigação da prova?”, questionou Alcoforado. “Museu deveria ser meio, um caminho para o aprendizado e não um fim, um lugar onde o conhecimento está pronto para ser absorvido”, afirmou o antropólogo.
“A relação dos visitantes com os museus deve ser permeada pelo afeto. O museu que não serve para a vida das pessoas, não serve para nada. A potência poética dos museus precisa ser recuperada”, defendeu Chagas, que tem uma estratégia de aproximação com os moradores vizinhos do museu, que fica no bairro do Catete, no Rio. “Não existe o já visto. O pior para educação brasileira é essa ideia. Não existe o mais visto na arte, na literatura. A potência poética dos museus, se recuperada, mostra que o já visto não existe. O Museu é”, sentenciou o especialista.
O levantamento traz um raio-x da percepção do público sobre museus brasileiros e aponta tendências e desafios para repensar o papel do museu no país e engajar mais visitantes. O estudo parte de dados quantitativos e qualitativos levantados para projetar como os museus podem transformar o modo como influenciam a vida contemporânea, promovendo experiências que estimulem a participação ativa do público. Os dados estão disponíveis para download gratuito aqui: https://oifuturo.org.br/pesquisa-museus-2019/
A pesquisa envolveu análise de relatórios internacionais sobre tendências relacionadas a museus e entrevistas com um grupo de seis especialistas em museologia, patrimônio, educação e história. Foram ouvidos 600 brasileiros, frequentadores e não frequentadores de museus, das classes A, B e C, de todas as regiões do Brasil, durante o segundo semestre de 2018. O processo incluiu ainda grupos focais em cinco capitais (Rio, São Paulo, Porto Alegre, Recife e Belém), que trouxeram informações qualitativas sobre o perfil comportamental do público de museus e uma visão sobre a experiência digital com museus nos país.
Para chegar às tendências, a pesquisa buscou responder questões como: O que o público pensa atualmente sobre os museus brasileiros? Por que muitas pessoas não os frequentam? Como os museus podem atrair mais público? Como a tecnologia pode ajudar? Qual é o papel da escola nessa relação? Como o museu pode estar conectado com a comunidade?
“A experiência com a tecnologia já é uma realidade. Como podemos engajar o público de museus usando as novas tecnologias digitais? Com essas perguntas fomos investigar e buscar tendências para provocar mudanças e debate no campo museal”, explica Bruna Cruz, museóloga do Museu das Telecomunicações do Oi Futuro.
Entre os destaques da pesquisa quantitativa, está a percepção de 50% dos entrevistados de que museus são lugares para visitar uma só vez, locais elitizados, monótonos e sem novidade. Para enfrentar esse chamado “efeito viu, tá visto”, os especialistas que participaram do estudo apontam para a necessidade de os museus se reinventarem como espaços onde o público pode viver experiências, que não podem ser reproduzidas virtualmente, e também apostarem em ciclos mais dinâmicos de exposição, inspirados na rotina dos centros culturais.
“Museus são instrumentos contra a barbárie. Trazem objetos vivos, com todas suas memórias e humanidades”, defendeu Marília Bonas .
Alcoforado lembrou um dos achados da pesquisa que mostra que o acervo de um museu para o público é experiência. ”Isso faz com que os objetos ganhem novos sentidos e gerem novos vínculos e laços emocionais”. Mário Chagas argumentou, no entanto, que há diferenças entre os equipamentos culturais que precisam ser entendidas: “Um museu com um jardim é diferente de um museu que tem um espaço só de um prédio. Essas relações amorosas devem ser estimuladas e isso se faz com a mudança de olhar e de entendimento do espaço que o museu pode de fato ocupar em nossa sociedade”.
Futuros dos museus
O objetivo da pesquisa é apontar alternativas e estratégias para que os cerca de 3.000 museus brasileiros registrados no IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus) possam se comunicar melhor com o público de hoje, conquistar novos visitantes e seguir como espaços relevantes de produção cultural, aprendizagem, conservação da memória coletiva e fortalecimento de comunidades. O estudo será disponibilizado para download nas principais redes de referência do campo da museologia e patrimônio.
O estudo faz parte da linha de atuação do Oi Futuro na produção de conteúdo de referência e no estímulo à inovação. No campo dos museus, o instituto atua através do Museu das Telecomunicações – pioneiro em interatividade e gamificação – e na geração de conteúdos e articulação de redes para formação de novos públicos, promovendo pesquisas, seminários e cursos.
O estudo também serve para nortear dois importantes movimentos de atualização do Museu das Telecomunicações, programados para 2019. O primeiro é o upgrade tecnológico e modernização das instalações físicas e expográficas do Museu, com novas atrações de interação e gamificação para o público. As obras iniciam no segundo semestre de 2019. O segundo é lançamento do edital “Hipermuseus”, com foco na formação de profissionais para os desafios do museu do século 21.