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Festival Oi Futuro: Nosso modelo de vida em revisão

25/07/2020

Festival Oi Futuro: Nosso modelo de vida em revisão

Por The Shift

 

Pensar e fazer diferente. É daí que nascem as inovações. Fruto, também, de muita colaboração, como deixaram bem claro os pensadores e profissionais que participaram do primeiro Festival Oi Futuro 100% online, realizado pelo instituto de inovação e criatividade da Oi, que nasceu, ele mesmo, de uma disrupção: a pandemia.

Entre o “corram para as colinas” e o “fazer do limão uma limonada”, o instituto Oi Futuro escolheu transformar o distanciamento social em oportunidade de conectar mentes inquietas, trazendo novas visões do futuro a partir da perspectiva da inteligência artificial, da realidade virtual, da diversidade, da ética, da arte e da empatia.

Todos concordam que estamos diante de muitos futuros possíveis. É praticamente impossível definir um único caminho, diante de tantas incertezas e transformações. Mas certamente eles passam por um esforço coletivo em democratizar as tecnologias, que precisam ser desenvolvidas pensando ativamente na redução de preconceitos, na preservação dos recursos naturais e nos seres humanos em primeiro lugar. E pela construção coletiva de novas narrativas, balizadas pela ciência e pelo mindset digital.

Há uma tensão quase diária entre o valor da vida humana e as necessidades econômicas. Estamos vendo um chamado para reexaminar isso, encontrar outros caminhos de medir nosso crescimento e encontrar nosso propósito”, resumiu bem Martha Cotton, diretora-geral da Accenture e uma das líderes globais de design da Fjord.

Abandonar as lentes do passado e adotar novas perspectivas, capazes de capturar novas realidades para lá de complexas, é hoje um exercício de sobrevivência para pessoas, empresas e governos.

Nesta edição especial de fim de semana convidamos a uma pausa para reflexão, ouvindo atentamente os insights dos 16 painelistas em relação a temas como transformação digital, cultura, ciência, diversidade e inclusão.

O futuro já está entre nós

O painel inaugural do festival contou com Rodrigo Abreu, CEO da Oi, e o futurista Tiago Mattos, para falarem sobre o tema “O futuro já está entre nós”. O debate centrou na questão da pluralidade do futuro.

“Se a tecnologia não promover escolhas, ela aprisiona. E aí caminhamos para uma distopia, e não uma utopia.”

Na visão de Rodrigo Abreu, o avanço tecnológico tem a obrigação de criar novas possibilidades de futuro, e não restringir as pessoas a uma única direção. Abreu destaca, ainda, que tecnologias vistas como ultrapassadas por parte privilegiada da população mundial podem ser “do futuro” para pessoas com menor acesso à tecnologia.

Na mesma linha, Tiago Mattos diz que a construção de um futuro único é excludente. O especialista explica que, para alcançar futuros que sejam inclusivos e proporcionem oportunidades e escolhas para todas as pessoas, promover acesso universal à educação, à informação e ao ambiente digital é essencial.  “A transformação da sociedade é uma revolução de acesso”, resume o futurista.

Novas formas de pensar em tempos incertos

Silvio Meira, cientista-chefe da The Digital Strategy Company, discutiu com Martha Cotton, diretora de pesquisa global da Accenture, as “Novas formas de pensar para tempos incertos”. Tomando como ponto de partida a pandemia da Covid-19 no mundo – e as incertezas que esta crise proporciona – os painelistas destacaram a necessidade de reinventar a sociedade e incentivar a cooperação global.

 

“Pessoas acham que as coisas são como elas são e ponto final. Mas tudo que existe foi desenhado, foi criado por alguém.”

Para a norte-americana Martha Cotton, especialista na área do design, é importante repensar inclusive aquilo que nos é mais familiar. “Ao reconhecer que tudo é desenhado, podemos pensar em redesenhar”. Martha ainda aponta que nas situações de escassez e dificuldade surgem grandes inovações.

De forma mais concreta, Silvio Meira cobra uma articulação global para redesenhar este futuro. “A humanidade de cada um de nós interdepende dos outros”, diz.  “Esse novo jeito de pensar cooperação é fundamental para nossa sobrevivência”. No entanto, o cientista conclui sua fala com uma visão pessimista: “Últimas grandes catástrofes mundiais não levaram a mudanças significativas em relação à desigualdade entre as pessoas”.

Transformação digital ou reinvenção cultural?

A transformação digital precisa da reinvenção cultural e de centralidade nas pessoas, concordaram Tonya Nelson, diretora de Arte, Tecnologia e Inovação do Arts Council England e Nina Silva, CEO do Movimento Black Money, ao tratarem do tema.

Tonya passou os últimos 3 anos pensando em novas políticas para promover o digital dentro do setor cultural. Muitas delas voltadas para o convencimento das lideranças, pouco engajadas com as novas tecnologias.

“Havia muito medo quanto a tentar fazer experiências com novas tecnologias. Achavam que os projetos digitais eram enormes e tomavam muito tempo, e resultados não geravam o que era esperado.”

Foi levando as lideranças culturais a avaliar como o digital as ajudaria a captar patrocínio, ampliar público e atingir cada um dos objetivos de negócio que a transformação digital começou de fato a acontecer nos museus, nas peças teatrais, na dança… com o emprego de IA, Realidade Virtual, Realidade Aumentada e muito mais.

De fato, aqueles que conseguem enxergar o digital como processo, em toda a cadeia de valor, conseguem gerar maior impacto, social e cultural, reforça Nina Silva. A transformação digital é uma nova forma de pensar e de se relacionar com o mundo, usando a tecnologia. Algo que o Movimento Black Money viabiliza entre os afro-brasileiros.

Ética e humanidade na Inteligência Artificial

Se a infraestrutura de suporte a tudo o que fizemos for masculina, ela poderá agravar a desigualdade de gênero no mundo. Vale para a internet, como vale para os sistemas e as plataformas baseadas em Inteligência Artificial. Isso ficou bem claro no painel com a pesquisadora americana e professora da UCLA, Safiya Noble e o cofundador e diretor do ITS Rio (Instituto de Tecnologia e Sociedade) Sérgio Branco, que concluiu que a IA vem se tornando uma importante questão de direitos humanos.

“Entramos em uma nova fase da IA, a da analítica de precisão, na qual os dados usados para treinar os sistemas são dados de um passado opressor.”

Safiya, que há anos estuda a representatividade de gênero nos resultados das grandes plataformas de mídias digitais, voltou sua atenção recentemente para os novos sistemas decisórios automatizados e o reforço que exercem na sub-representação e na discriminação de pessoas já marginalizadas.

Precisamos tomar agora algumas decisões sobre o futuro que queremos“, concordou Sergio Branco, cofundador e diretor do ITS Rio – Instituto de Tecnologia e Sociedade, ressaltando que a nossa relação com as máquinas e as futuras consequências sociais e econômicas da IA passam por questões éticas que já nos confrontam agora, no presente, como a de dar, ou não, personalidade aos robôs.

Ambos defenderam a educação como solução fundamental para o viés algorítmico. E não apenas a educação digital. Para forjar uma IA ética, precisamos de alfabetização racial. De uma profunda compreensão do racismo sistêmico e da nossa capacidade de abordar questões raciais já na fase inicial do desenvolvimento de sistemas, produtos e serviços. É por meio de políticas educacionais que quebramos ciclos que perpetuam privilégios e, consequentemente, o poder econômico e decisório sobre a criação de novas tecnologias.

Ciência na linha de frente

Os cientistas brasileiros Stevens Rehen e Jaqueline Goes falaram sobre “Ciência na linha de frente” no primeiro painel do segundo dia de festival. Ambos os painelistas realçaram a importância da melhor comunicação entre a ciência e a sociedade. De um lado, a divulgação científica precisa ser mais compreensível ao público geral; de outro, a população e a gestão pública devem valorizar o método científico.

“É preciso repensar a estratégia de educação científica. Eu, particularmente, não tive uma base científica na minha formação.”

Para Jaqueline Goes, a valorização da ciência passa pelo ensino formal nas escolas. Segundo a especialista, que liderou o sequenciamento do genoma do coronavírus no início da pandemia, a falta de educação para a ciência é, por exemplo, um impulso do movimento antivacina, que atinge 50% das pessoas nos EUA.

Steven Rehen, por sua vez, afirmou existir “um descompasso entre a geração de conhecimento e a tomada de decisão”. Ou seja, para o cientista, o que a ciência produz pouco influencia nas ações da gestão pública. As saídas para este impasse são: maior cooperação da comunidade científica internacional; divulgação científica alinhada com o entendimento da população; e priorização do método científico para solucionar problemas complexos.

Virtualmente real? Imersos em novas realidades

No painel “Virtualmente real? Imersos em novas realidades”, a futurista Daniela Klaiman e o empreendedor Rodrigo Terra discutiram sobre as possibilidades das tecnologias imersivas, que englobam realidade aumentada, virtual e mista. Com a necessidade do distanciamento social, as novas realidades entraram em evidência pela perspectiva de aproximar as pessoas em um ambiente digital.

“A empatia é o grande super poder da realidade virtual.”

Para Daniela Klaiman, a capacidade que a tecnologia tem de colocar uma pessoa no lugar de outra de forma praticamente literal precisa ser ressaltada. Isto é valioso tanto pela ótica dos negócios, já que torna possível “entender o mundo pelos olhos do cliente”, quanto para o progresso social: por um lado, a realidade virtual permite se colocar na posição de pessoas com necessidades especiais; por outro, proporciona a estas experimentar a vivência sem restrições em um ambiente digital.

Embora o conceito da realidade virtual tenha décadas de existência, Rodrigo Terra diz que a tecnologia ainda não atingiu o “ponto de inflexão para o crescimento exponencial”. Para o empreendedor, um dispositivo com qualidade técnica e custo acessível ainda não existe no mercado, mas a programação em realidade virtual já está sendo democratizada por movimentos como o Low-code e o No-code.

A diversidade move a inovação. E quem move a diversidade?

Quem move a diversidade são as pessoas. Pessoas inseridas em seus respectivos grupos sociais. Principalmente nas empresas. E de todos os tamanhos. Como? Primeiro fazendo um diagnóstico do problema.

"Olhe para a sua força de trabalho e se pergunte quantas pessoas negras há ao redor."

Essa é uma boa forma de começar a endereçar a diversidade na sua companhia, segundo Christiane Silva Pinto, gerente de marketing do Google Brasil e cofundadora do AfroGooglers. Ao agir, contrate alguém quem sabe fazer inclusão. E aí, incorporando a diversidade entre os indicadores de negócio, incentivando as minorias a se tornarem protagonistas, é possível experimentar, na prática, como a diversidade move a inovação e a inovação move a sustentabilidade dos negócios.

Paulo Rogério Nunes, empreendedor, consultor em diversidade e autor do livro “Oportunidades Invisíveis”, concorda. Ao criar times mais diversos, é possível pensar em novos produtos, que muitas vezes não estão sendo desenvolvidos pela falta de diferentes perspectivas. Na sua opinião, o Brasil ignora os diferentes grupos populacionais, e com isso deixa de melhorar a economia ao inseri-los em diversos setores do mercado.  “Não há inovação se não houver diversidade”, afirma ele.

Arte e a reinvenção da realidade

A arte existe porque a vida não basta, disse Ferreira Gullar. Citada por Roberto Guimarães, Gerente executivo de cultura do Oi Futuro, a frase sintetiza bem o último painel do festival, que se debruçou sobre como a arte ajudará a reinventar realidades e a abrir novas perspectivas em um mundo pós-pandêmico.

"A arte é essencial como ar. O ar da liberdade possível nesses tempos de clausura."

Para Roberto Guimarães, a arte nos permite viajar, transportar-nos para outros cenários e realidades. E servirá de inspiração para novos artistas, que certamente serão influenciados em suas obras pelo hibridismo que vivenciamos, do presencial com a ausência, do corpóreo com o digital, feito de pixels. Em ambientes de muita colaboração, dada a relatividade das barreiras de tempo e espaço.

O diretor artístico e curador Marcelo Dantas aumenta um tom. Segundo ele, foi depois de períodos de trauma coletivo como o que estamos vivendo que grandes artistas, obras e movimentos artísticos emblemáticos surgiram. E cita a Guernica e a Semana de Arte Moderna, em 22, como exemplos.

Nada sugere que vá ser diferente agora”, afirma. Com um detalhe: estamos em um hiato. Um momento em que todas as relações estão sendo passadas a limpo, e o que surgirá daí está sendo desenhado. Inclusive novas linguagens e formas de expressão.

Para ambos, é muito cedo para que a geração Z, tão profundamente impactada por essa experiência de afastamento social, materialize o trauma em arte. Mas isso acontecerá. E, na opinião de Marcello, através do diálogo com as novas tecnologias imersivas. “Temos um monte de novas linguagens pedindo novos autores. A Realidade Virtual, a Realidade Aumentada, as instalações interativas”, completa. Na opinião de Roberto, também do diálogo entre ciência, tecnologia e educação, irmã da arte.

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