Rio2C: Tecnologia não elimina intuição e criatividade humana
25/04/2019
O grande salto tecnológico que o mundo vem passando não tira o papel da intuição e da criação humana. Esse foi o recado dado pelo Chief Content Officer (CCO) da Netflix, Ted Sarandos, aos participantes da Rio2C. Apesar do uso cada vez maior da inteligência artificial, do manancial de informações sobre as pessoas no Big Data e da grande proliferação de dispositivos eletrônicos, ele garante que em empresas como a gigante do ramo de streaming decisões ainda são tomadas o olho no olho, com o objetivo de cativar mais pessoas pelo mundo.
“Não estamos usando a tecnologia para substituir o homem, mas para tornar a experiência mais prazerosa. Os produtores, as pessoas responsáveis pelo elenco e, enfim, todos os envolvidos na criação são seres humanos. O fator humano está no centro do processo. A tecnologia só ajuda a tornar o conteúdo mais acessível”, afirmou Sarando, durante o painel “Brasil no Cenário Global”, em conversa com o ator e diretor brasileiro Wagner Moura.
O consumo de conteúdo audiovisual por streaming tem crescido no Brasil e no mundo e a empresa americana vem liderando esse avanço, atraindo uma concorrência cada vez mais acirrada com outros serviços semelhantes e também com os grupos tradicionais de mídia.
Há sete anos a Netflix passou a produzir conteúdo próprio nos Estados Unidos e há três lançou a primeira série produzida no Brasil, a “3%”, que acabou se tornando um sucesso internacional. Como disponibiliza filmes e séries em 17 países diferentes, a empresa procurou apostar desde o início em soluções direcionadas para cada lugar, proporcionando uma maior diversidade temática que os canais tradicionais. Como tem acesso direto ao comportamento dos clientes, como programação escolhida e o tempo dedicado a ela, também pode adequar o conteúdo ao que mais recebe atenção.
Por isso, a empresa ousa levar ao público americano vídeos em outras línguas, o que no modelo tradicional era impensável. Em grande parte, o sucesso de “Narcos”, em que Wagner Moura vive o narcotraficante colombiano Pablo Escobar, desbancou antigos preconceitos.
Apesar das infindáveis possibilidades de medição das preferências do público, nem tudo é elaborado pelas máquinas. Segundo Sarandos, a tecnologia e os processos modernos de geração de informação não substituem o trabalho intuitivo durante a criação.
“Existe uma intuição humana que indica que tipo de história as pessoas estão dispostas a ouvir e se estão dispostas a passar horas assistindo a uma produção. É um processo bastante humano”, afirmou o executivo, que costuma ouvir apresentações dos roteiristas sobre suas ideias em apresentações presenciais.
O próprio Wagner Moura deve estrear em breve no canal de streaming filme em que interpreta o embaixador brasileiro Sérgio Vieira de Mello. É mais uma aposta internacional com um protagonista latino. “Queria fazer um papel latino em Hollywood, mas sem ser estereotipado”, contou o ator.
Para Sarandos, há uma relação afetiva forte entre o Brasil e a Netflix e o país é prioritário para a empresa. “Brasil tem uma grande diversidade, uma topografia incrível e um potencial enorme para contar histórias”, elogiou o executivo.
O uso do Big Data pelas empresas é um tema polêmico, por conta do risco de eventuais violações da privacidade das pessoas. No entanto, especialistas no tema reunidos no painel “Bigdata: As guerras não vão ser com armas e sim com inteligência” garantiram que há grande potencial do uso desses dados, com mais vantagens que desvantagens.
Thoran Rodrigues, fundador da BigData Corp, afirma que o uso de grande volume de dados pode favorecer a diversidade se usado corretamente. Num processo de seleção, por exemplo, ele pode ajudar a ampliar a base usada entre candidatos e facilitar a busca de perfis mais variados. No entanto, ele reconhece que uma das principais aplicações até acidentais desse manancial de dados é justamente prejudicar a diversidade, quando uma empresa usa os dados para afunilar ainda mais suas escolhas.
“A vantagem é que tendo informação e transparência, acaba-se identificando essas situações. Avalia critérios seletivos que causam discriminação. Pode favorecer a diversidade de acordo com a forma como é tratado”, explica Rodrigues.
O diretor de Arquitetura e Transformação Digital TI da Oi, Gustavo Valfre, apresentou as ferramentas usadas pela empresa para aproveitar os dados gerados a partir do seu comportamento para melhorar a comunicação com os clientes. As informações colhidas pela companhia também ajudam o setor público no planejamento urbano e na gestão da segurança pública.
“O principal ganho para o setor público é o planejamento das cidades, seja de tráfego seja de grandes eventos. Não fornecemos o dado do cliente, mas o dado comportamental. É relevante no sentido de planejamento da cidade. Também fornecemos dados úteis para o setor de segurança pública dos estados. Dados georeferenciados com horários, que podem orientar o policiamento”, contou Valfre.