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A cidade por um novo olhar: Conheça as práticas inovadoras do NAVE

04/04/2018

A cidade por um novo olhar: Conheça as práticas inovadoras do NAVE

O que é:

Esta prática convida os estudantes a lançarem um outro olhar sobre o lugar em que vivem. Os jovens fazem registros fotográficos, ilustrações ou pinturas da região onde moram, como se fossem estrangeiros. Neste exercício, eles são estimulados a articular conteúdos de estética aprendidos na disciplina de Filosofia e provocados a romper com os padrões de beleza exclusivamente apolíneos.

 

Por que fazer:

Os padrões tradicionais que definem o belo são aprisionadores e excludentes. Ao olharem de uma forma diferente para o espaço urbano pelo qual circulam todos os dias, os jovens ampliam suas percepções sobre os padrões de beleza e criam novos significados para o lugar onde vivem. Essa nova forma de ver o bairro fortalece o sentimento de pertencimento e a autoestima em relação ao lugar em que moram. A experiência ainda faz com que estabeleçam relações entre territórios locais e globais.

 

Público-alvo: Ensino Médio, Educação de Jovens e Adultos

Recursos: Smartphones com câmera fotográfica, papéis, canetas, pincéis, tintas, lápis de cor, livros didáticos de Filosofia.

Área do conhecimento: Ciências Humanas

Componente curricular: Filosofia

 Tempos de aula: Esta atividade foi desenvolvida em 12 aulas, de 50 minutos cada

 

Como fazer: 

1 – A atividade tem início com um encontro em que professor e estudantes discutem o conceito de beleza. Cada um deve falar sobre um lugar que considere bonito na sua cidade. Em uma turma grande, as justificativas devem ser breves para não ficar cansativo. Enquanto um estudante apresenta, os colegas devem fazer registros do que está sendo falado. Ao final dessa rodada de apresentações, todos devem ler em silêncio suas anotações e responder por escrito à pergunta: o que consideramos ser belo? Em seguida, é feita mais uma rodada de exposições pedindo que eles apresentem suas respostas para a questão.

 

2 – No segundo encontro, um novo debate é proposto. O objetivo central da discussão é diferenciar o que seria a noção de beleza a priori e o que muda quando a noção de beleza se constrói a partir do significado.

 

3 – Na terceira aula, o professor apresenta imagens de diversos tipos de arte: pinturas renascentistas, performances, instalações e grafite. A partir desse material, propõe-se um debate sobre a arte tradicional e arte urbana. Ao final da aula, os estudantes tentam responder à seguinte questão: como a arte afeta os espaços?

 

4 – No encontro seguinte, entra em cena a poesia “Do Tejo se vai para o mundo”, de Alberto Caieiro (heterônimo de Fernando Pessoa). O texto trata do caráter único e livre do rio que corre pela aldeia do autor, em contraste com o rio Tejo, saída para as grandes navegações ibéricas e um local muito famoso em Portugal. Os estudantes fazem a leitura em jogral e depois há um debate sobre suas reflexões. Durante a conversa, eles fazem a transposição dos pensamentos do autor sobre a região do Tejo para a região em que vivem. O professor pede que tentem encontrar semelhanças e diferenças entre os sentimentos apresentados no texto e os que eles têm sobre os seus bairros. Os jovens devem refletir sobre o lugar em que vivem e observar as diferenças em relação aos bairros dos colegas, ainda que estejam no mesmo espaço urbano. Na prática realizada no Colégio Estadual José Leite Lopes/NAVE Rio, falou-se sobre a cidade do Rio, que é cheia de espaços públicos geralmente representados como clichês turísticos. Surgiram, assim, as perguntas: qual é o Rio de Janeiro de cada estudante? Como nos apropriamos dos lugares em que vivemos? Onde estão as outras belezas – belezas do pequeno, do cotidiano? Esta etapa é finalizada com um convite aos estudantes para que aproveitem os momentos em que chegam e saem de casa, algo que fazem todos os dias no trajeto para escola, para observar o local com outros olhos. Todos devem buscar perceber outros padrões estéticos, com base na experiência e na afetação que uma construção, ou uma obra de arte (dentro ou fora dos museus), causa.

 

5 – Na aula seguinte, os estudantes leem o texto  “Diferença e repetição”, de Gilles Deleuze. Depois da leitura, é feito o questionamento: como enxergar o que nunca se enxergou? Como estar atento ao lugar em que se vive? Ao final deste encontro, o professor pede que os estudantes façam um passeio de observação e estudo técnico pela região onde vivem. Eles devem identificar o que acham belo nesse lugar e produzir fotos, ilustrações ou pinturas. O pedido é que façam três fotos ou obras artísticas, no mínimo. Os estudantes podem retratar paisagens, espaços públicos, objetos, edificações, monumentos, obras de arte, entre outras referências. Recomenda-se que caprichem na composição estética, tentando fazer belos registros sobre o que valorizam em sua região. As fotografias, desenhos ou pinturas podem transmitir impressões que destaquem os aspectos particulares do território em que estão inseridos e referências mais universais sobre a cidade como um todo.

6 – A última parte da atividade é dedicada à apresentação das imagens produzidas pelos estudantes. Eles devem exibi-las justificando suas escolhas e trazendo informações sobre a investigação. É recomendado que os jovens façam registros por escrito. Não é obrigatório que escrevam sobre suas fotos, pinturas ou desenhos, mas é necessário que tragam reflexões de forma organizada no momento de apresentação para a turma, articulando os conhecimentos teóricos dos encontros anteriores. Ao fim, os estudantes devem escrever sobre se houve e qual foi a mudança na relação com o lugar onde moram. Todos leem suas reflexões e comentam.

 

Competências desenvolvidas: Comunicação, Repertório cultural, Empatia e cooperação

 

Critérios de avaliação: 

Uma nota é atribuída ao trabalho de produção das imagens pelos jovens. O processo criativo do estudante e sua capacidade de expor reflexões sobre o que fotografou, desenhou ou pintou são levados em conta.

 

Resultados:

A prática fez com que os estudantes passassem a se interessar mais pela sua cidade. Eles se sentiram estimulados a falar sobre suas origens, os lugares em que já viveram, onde moram, as diferenças entre esses espaços e outros por onde transitam. É uma experiência que transforma a relação que têm com as regiões em que vivem, desenvolvendo o sentimento de pertencimento a esses lugares. À medida que os jovens articulam a observação empírica e as reflexões filosóficas, passam a se posicionar de forma distinta, a rever seus referenciais de beleza e valor.

 

Saiba mais:

Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993).

DELEUZE, Gilles, Diferença e repetição. Editora Relógio d’água, Lisboa, 2012.

 

Sobre a autora: Cecilia Oliveira

Graduada em História pela UFRJ e mestranda do programa de pós-graduação em Educação (PROPED) da UERJ. Estuda atualmente o processo de construção da democracia no espaço escolar a partir da experiência da ocupação estudantil, ocorrida de abril a maio de 2016. Atua como educadora em escolas privadas e na rede estadual do Rio de Janeiro desde 2010. Anda na rua ouvindo música, conheço todas as empadas do Rio de Janeiro, acordo de madrugada para ler romances e gosto de pensar sobre arte.

 

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