Papo de Futuro Especial: Prepare o jovem para impactar o mundo
09/09/2020
O protagonismo jovem e a conexão da escola com os desafios sociais do nosso tempo são o ponto de partida do guia digital “Empreendedorismo Social na Educação”, fruto de uma parceria entre o Oi Futuro, o British Council e o Porvir, voltado para educadores e gestores de redes de ensino, com conceitos, estratégias e casos reais do Brasil e do Reino Unido. O lançamento ocorre durante mais uma edição da série “Papo de Futuro”, organizada pelo Oi Futuro e transmitida pelo canal do Instituto no Youtube e com acessibilidade em libras. Aberto pela diretora executiva do Oi Futuro, Sara Crosman, e pela diretora de Educação do British Council, Diana Daste, o encontro virtual contou com as participações de Anna Penido, especialista em Educação, João Souza, diretor de Inovação do FA.VELA, e Luiza Iolanda Cortez, professora e gestora na Secretaria de Estado de Educação da Paraíba. A mediação foi de Tatiana Klix, diretora do Porvir.
“São as atitudes e valores que fazem com que o empreendedorismo tenha um compromisso com a transformação pessoal e do coletivo”, observa Anna Penido. “Os jovens deixaram de ser apenas público-alvo e, muitas vezes, se tornam protagonistas”, constata João Souza. “Conseguimos transformar a escola em um espaço de pertencimento”, comemora Luiza Iolanda Cortez.
Confira abaixo outras dez reflexões de Anna Penido, João Souza e Luiza Iolanda Cortez sobre o tema “Empreendedorismo Social na Educação”.
1)O diálogo com as novas políticas públicas
Anna Penido é uma militante das causas da Educação e da Juventude, e seu propósito de vida está intrinsecamente relacionado à busca de uma transformação positiva do mundo. “Precisamos formar e preparar as pessoas para que elas possam trazer essa dimensão do empreendedorismo social, e nada melhor do que a escola para fomentar isso”. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) diz que a proposta da Educação no Brasil é promover a formação integral dos estudantes em todas as suas dimensões – intelectual, física, social, emocional. Quando falamos em desenvolvimento de competências na Base significa criar conhecimentos, atitudes e valores. Mas, não adianta apenas ter boa intenção. É preciso desenvolver habilidades básicas, planejar uma ação, obter apoios, ter capacidade de proposição, de mobilização, de escuta, de diálogo, de articulação. Um dos fenômenos que precisamos mais combater hoje é o ‘Não tô nem aí’. Vamos arregaçar as mangas e ajudar nos problemas que afetam as populações mais vulneráveis, marginalizadas e excluídas da sociedade. Anna deu uma verdadeira aula sobre as competências, e disse que elas são parte inalienável do processo educativo. Quanto aos ‘itinerários formativos’, uma das grandes mudanças propostas pela reforma do Ensino Médio, seus quatro eixos – a pesquisa científica, a busca de soluções para os problemas reais, as intervenções culturais e sociais e, por último, o próprio empreendedorismo – dialogam demais com o empreendedorismo social.
2)As habilidades para os agentes de transformação
“Eu era um péssimo aluno e vivia fora de sala, literalmente”, conta João Souza, 40 anos. Durante sua trajetória, conheceu um movimento importante, que lhe proporcionou as bases para entender outras formas de Educação, que foi o de escoteiro, com sua lógica do aprender fazendo, de estimular a construção, e onde atua até hoje. O FA.VELA, um hub de Educação e Inovação Social que dirige, trabalha com várias práticas para a formação de empreendedores, e com a lógica da inclusão e tecnologia, levando toda essa realidade para jovens e adultos. No ano passado, em parceria com o Instituto Ânima, realizaram um programa para empreendedores sociais, na área da Educação. “Ficamos impressionados em ver como a galera está inventando práticas educacionais dentro da periferia”. Foram 25 iniciativas de jovens, criando desde metodologias preparatórias para o vestibular, ou mães, que eram estudantes de Pedagogia, reinventando a creche e olhando a lógica de ‘escola-quintal’. Tudo isso foi levado para dentro do território da periferia. “É necessário haver outras inversões da Educação. Os professores devem ser vistos como parceiros, e os jovens precisam encarar o educador como fonte de conhecimento. Existem desafios, claro. Mas, durante a pandemia, por exemplo, vejo pessoas que nunca sofreram nenhum impacto sobre desigualdade, mas que estão discutindo o tema”.
3)A experiência da Paraíba
Tudo começou em 2017, quando a professora de História e Bacharel em Direito Luiza Iolanda Cortez fez uma viagem de estudos à Finlândia, exemplo de Educação no mundo. Retornou ao Brasil com um desafio, espécie de ‘movimento antropofágico’, como ela chama. Precisava adaptar e trazer para cá a noção de empreendedorismo encontrada lá, de uma maneira que fizesse sentido para a nossa juventude. Como conquistar os professores para que se engajassem nesta ideia? A grande luz foi o empreendedorismo social. Estimular os estudantes a pensarem no empoderamento, no reconhecimento como uma pessoa inovadora, criativa e capaz. A experiência foi iniciada, efetivamente, em 2018, com duas Escolas Cidadãs Integrais da rede estadual da Paraíba, onde trabalharam com adolescentes do Ensino Médio, e abordaram tanto metodologias ativas, aprendizagem e pertencimento, quanto projetos de vida. Em 2019, a iniciativa foi estendida a 90 escolas e, em 2020, chegou a 123 unidades. Para estruturar esse componente, introduziram três grandes aprendizagens: problema, projeto e impacto social. Como os estudantes conseguirão mobilizar seus saberes escolares para que sua realidade seja mais significativa? Enfim, a ‘Colabore e Inove’, disciplina fruto da parceria entre uma universidade finlandesa e o governo da Paraíba, está contribuindo para a construção do currículo do novo Ensino Médio.
4)Principais desafios para a implementação do empreendedorismo
Para Anna, a questão do empreendedorismo social ainda não está culturamente incorporada pelos brasileiros. Esperamos que alguém resolva os nossos problemas. “Claro, que nos últimos 30 anos, desde que eu comecei, vejo uma evolução, principalmente, nas novas gerações. Mas, para muitos, se envolver com questões sociais significa partidarismo, manipulação das mentes”. Iolanda acredita que o engajamento dos estudantes é um ponto fundamental para se trabalhar o empreendedorismo na escola. A abordagem do currículo precisa ser extremamente significativa com a realidade do jovem. Se não conversar, não vai haver engajamento. Outro ponto importante é que os professores se sintam parte do processo. João acha que a Educação precisa ser tratada como ciência. É necessário muita força de vontade. A Educação no Brasil sempre está ‘pendurada’ em alguma coisa, acrescenta.
5)Projetos desenvolvidos pelos alunos
“Temos uma variedade imensa de projetos, e estes precisam conversar muito com a realidade de cada escola”, responde Iolanda. Ela dá exemplos, como os relacionados ao combate à violência contra a mulher, através de parcerias com ONGs. Outros alunos sugeriram a criação de respiradores durante a Covid-19, construindo protótipos dentro das escolas. E mais: a criação de um cortador de grama, além de ações sociais, como um museu escolar. No momento, está sendo realizado um levantamento de todas as ações significativas durante o desenvolvimento dos projetos da ‘Colabore e Inove’ para uma futura plataforma de divulgação.
6)O dia a dia do trabalho educacional no FA.VELA
“Conseguimos nos reinventar muito durante esses seis anos. Manter essas características de aprendizagem”, conta João. Basicamente, a rotina do FA.VELA é “deixar a gente tentar o que quiser”, como bem definiu uma estagiária da organização. É um lugar de liberdade, um lugar de se permitir. Cada um tem um jeito de fazer.
7)Impactos sociais e oportunidades
Muitos estudantes, após a ‘Colabore e Inove’, disseram que queriam fazer algo relacionado a empreendedorismo social. Desde mudanças de perspectiva, como uma nova formação acadêmica, relata Iolanda. Alguns alunos receberam bolsa de iniciação científica; outros colocaram projetos em incubadora na cidade de Campina Grande. “Constatamos que projetos e ideias pensadas ao longo do Ensino Médio estão indo além da Educação Básica; conseguem ter um encaminhamento com resultados para a comunidade.
8)A formação dos professores
Segundo Anna, é preciso pensar no professor como um empreendedor social. Ele, que tem uma missão superimportante, que é transformar vidas. É sempre bom entender que a raiz de toda mudança é a escola. Pode não ser a escola formal, mas algum tipo de escola onde se desperta para talentos, ocupações, propósitos de vida. “Se conseguirmos fazer uma formação de professores em que eles possam também se autoconhecer, trabalhar seu projeto de vida e, dentro disso, a perspectiva do empreendedorismo social como agentes de transformação, eles estarão se aproximando desta proposta”.
9)A avaliação em relação às práticas e currículos
A avaliação, ressalta Iolanda, faz parte de um processo de aprendizagem; não é algo posterior ou que acontece de um maneira deslocada. Ela nos dá indicadores muito importantes para saber, por exemplo, qual o nível de engajamento dos estudantes. O acompanhamento contínuo também faz parte. E uma estratégia muito importante é a transparência – o estudante deve se sentir parte integrante do processo de avaliação. Um dos pontos que precisa ser desconstruído é o de que a avaliação é um processo punitivo. Escola não é prisão. É um lugar de participação, de crescimento. “Na Paraíba, criamos uma arquitetura pensando em novas maneiras de se avaliar. Outra estratégia é a ‘360 graus’, uma ferramenta que permite a avaliação do funcionário por todos a sua volta”. Anna acrescenta: “Quando avaliamos uma ação de empreendedorismo social, estamos buscando o impacto social, aquilo que a gente queria transformar, o direito que estava sendo negado. É a mesma coisa que temos que buscar na escola. A Educação é um direito, e essa Educação integral, que busca a formação de agentes de transformação social, também é um direito.” Para João, “nós temos que renovar as crenças e posicionar a escola como lugar de construção, de horizontalidade de debates”.
10)Construindo o futuro
Anna pede compreensão para o que está sendo colocado. “Não é um termo trivial, não é um conceito que já está familiarizado. Precisamos investir na construção de um entendimento. Espero que todos divulguem bastante o Guia!” João elogia os conceitos do Porvir, diz que a Educação é um tema transversal e que precisa ser discutida nas comunidades, olhando a questão do território. Iolanda finaliza: “Esse é um convite para irmos além. Refletir e estudar o Guia é fundamental, servindo para uma roda de diálogo entre professores, e para pensarmos em como pode ser aplicado nas nossas escolas.
Você pode conferir a íntegra do encontro online sobre o tema “Empreendedorismo Social na Educação” aqui.