“A REINVENÇÃO É A BASE PARA A SUSTENTABILIDADE DO VIVADANÇA”
16/05/2013
Diretora, coreógrafa, professora e um dos nomes mais respeitados da dança contemporânea, Cristina Castro é membro do CID (International Dance Council/UNESCO). Graduada em dança pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), realizou intercâmbios nos Estados Unidos, Alemanha e Espanha. Como coreógrafa, criou 15 espetáculos e recebeu diversos prêmios, entre eles o do Ministério da Cultura (Troféu Mambembe/1998) e o da Unesco (Prize for the Promotion of the Arts/2004). Como produtora cultural e curadora, fundou, em 1998, o Núcleo Viladança e criou, em 2006, o VIVADANÇA Festival Internacional, que chega ao palco do Oi Futuro, pelo segundo ano consecutivo.
OF: Sete anos após a primeira edição do Festival, percebe-se que ele cresce consideravelmente e, acabou se reinventando. Como isso aconteceu?
CC: Com o passar dos anos, o projeto ganhou cada vez mais o respeito e o interesse do público e dos artistas. Isto me inspirou a seguir em frente e o Vivadança cresceu consolidando a cada ano uma grande rede de colaboradores: artistas, pesquisadores, empresários, produtores, embaixadas, instituições culturais etc.
A reinvenção é a base para a sustentabilidade do projeto. Avalio e repenso o formato do festival para que ele possa dialogar com o mundo em movimento e também com minhas próprias inquietações enquanto ser humano.
Muitas novas ações são criadas a cada edição. Por exemplo, a circulação por outras cidades foi uma ação que surgiu pela necessidade de desdobramentos, da criação de uma semente para uma rede nacional e compartilhamento de bens culturais.
O Vivadança agora já faz parte do calendário das cidades que trabalhamos e dos artistas e grupos de dança. Já estamos na rota internacional de festivais e isso é fruto do trabalho de uma equipe comprometida, de artistas inspirados, de investidores que credibilizam nosso projeto e, especialmente, de um público que responde a cada ano com sua presença nos teatros e espaços culturais.
OF: Fale sobre os principais destaques que serão apresentados, em maio, no Oi Futuro.
CC: Para BH selecionei uma mostra de quatro espetáculos internacionais que estarão na programação geral do festival e um espetáculo baiano que destaca o trabalho de intercâmbio cultural, tanto pela localização dos artistas quanto pelo desafio em novas linguagens artísticas.
A seleção teve como base a diversidade. São espetáculos que instigam, emocionam e inovam. Pesquisas que utilizam diferentes temas e ferramentas como o vídeo, a palavra ou objetos cênicos.
Em 5 dias teremos trabalhos da França (Cia. Hapax), Japão (Tadashi Endo), solistas internacionais (Chade, Israel, Portugal, EUA e Canadá), México e Colômbia (Omar Carrum e Vladimir Rodriguez).
Do Brasil, o Bando de Teatro Olodum com o espetáculo Dô, sob direção de Tadashi Endo. Este trabalho é fruto do encontro do mestre de Butô, Tadashi Endo, com um dos grupos mais talentosos de artes cênicas da Bahia.
Acredito que a mostra trará uma boa oportunidade para que o público mineiro aprecie e conheça um pouco mais do que está sendo feito na dança atualmente.
OF: O que representa, atualmente, o Festival para a arte da dança?
CC: Acredito que o Vivadança é importante pelas trocas e contatos com outros artistas e seus modos de representar o mundo e nosso tempo, tudo isto através dos movimentos. Para se ver e constatar como outros corpos, com suas histórias e culturas diferentes, nos contam coisas novas e antigas que ainda não sabemos ou pelo menos não através dessa forma nova.
O festival também é muito importante para a troca necessária de informações sobre formas de produção e para conhecer iniciativas e projetos que podem nos inspirar e resolver nossas questões.
Além disso, economicamente também movimenta recursos. Traz investimentos, beneficia centenas de pessoas, direta e indiretamente. E, ainda, beneficia milhares de outras que poderão assistir a espetáculos que dificilmente veriam se não fosse esta poderosa ferramenta de difusão que são os festivais.
Destaco também todo um trabalho de formação, através de oficinas realizadas pelos coreógrafos e dançarinos das companhias convidadas.
OF: Há alguns anos, o Vivadança conta com um espaço dedicado ao Hip Hop. Como você vê esse movimento hoje, tanto no Brasil, quanto no exterior?
CC: Vejo como uma conseqüência direta de um movimento em plena expansão. O Hip Hop é um dos movimentos mais fortes de dança. Aqui no Brasil, em cada cidade, por menor que seja, existe um grupo de break dance atuando, compartilhando e comungando ideias. Não podemos nos esquecer também que o movimento do Hip Hop, não só apenas por sua condição estética, o que já justificaria sua participação em qualquer festival de dança, é um mobilizador político fortíssimo, o que também nos traz outra potencialidade desta linguagem que queremos mostrar e revelar cada vez mais: a dança que não é apenas movimento estético, mas que também é voz.
Assim, inserir o Hip Hop em um festival de dança, como o Vivadança, que trabalha a dança na sua diversidade, diversidade de movimento e existência, é uma consequência mais do que natural.
OF: A programação do Festival circula por diferentes eixos da produção cultural. Dentro deste contexto, qual a importância do Prêmio Vivadança?
CC: Para que os festivais existam é necessário que exista primeiro boas ideias, bons criadores, bons intérpretes e uma pesquisa interessante. O prêmio é a forma que temos de valorizar quem faz dança e promover, também presente nas várias oficinas que realizamos, a formação do dançarino. Inserir um prêmio de criação é incentivar que novos artistas possam ter espaço e condições para mostrar suas pesquisas. Para a Bahia é fundamental o fomento a criação na dança. Premiar é credibilizar e apostar juntos em um bom projeto.
O resultado tem sido interessante e alguns trabalhos, junto com o nosso prêmio, já têm sido selecionados em outros editais locais e nacionais. Isso nos traz muita alegria e a certeza que estamos no caminho certo e muito fértil.