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Acervo Online: Conexões infinitas de saberes – por Bruna Cruz

06/07/2020

Acervo Online: Conexões infinitas de saberes – por Bruna Cruz

Uma das definições sobre o conhecimento que mais me agrada é a ideia da “ilha do conhecimento”, do físico Marcelo Gleiser. Para ele, conhecimento é como uma borda que delimita o espaço de contato entre a zona do que é conhecido da vastidão do desconhecido. Ao passo que vamos aumentando a área do conhecido, a borda com o desconhecido também se amplia e, assim, vamos construindo novos saberes.

Quando trago este pensamento para a prática da museologia, vejo que a reunião de itens museológicos é um infinito de possibilidades de conexões em prol do conhecimento. São milhões de objetos, documentos, publicações que formam as coleções dos principais museus e que, na sua maior parte, não estão disponíveis ao público, alimentando a “zona do desconhecido”.

Muitos dos museus brasileiros apresentam acervo com mais de cem mil bens culturais, a maioria deles mantidos em uma reserva técnica. O quantitativo é superior a capacidade de exibição. O público em geral conhece, inevitavelmente, somente parte de um todo.  Quanto mais posto em contato com esses “tesouros”, maior é a capacidade de gerar conexões infinitas de saberes, alargando cada vez mais a “ilha do conhecimento” e gerando novas ressignificações com o desconhecido. Disponibilizar acervos é contribuir para um sistema inteligente que retroalimenta o saber.

Em pesquisa produzida pelo Oi Futuro, em 2019, “Museus: narrativas para o futuro”, a maior parte dos entrevistados afirmava que “ é o acervo material ou imaterial de um museu que dá sentido à atuação das instituições de memória pelo mundo”, porque é por meio dele que formamos conexões emocionais, históricas, científicas e de inovação com o tempo presente. Isso reforça a ideia de que, a cada nova geração que entra em contato com o universo museológico, criam-se novas formas de pensar e de refletir.

Mesmo com a inauguração do Musehum, em janeiro de 2020, quando se trouxe a público itens da nossa coleção que ainda não haviam sido expostos, seguia-se com a vontade de mostrar mais e mais. Assim, nos empenhamos em construir um catálogo que reunisse peças que pudessem ajudar a conhecer e a narrar um pouco mais sobre a história da modernização dos meios de produção, sobre entrada da mulher no mercado de trabalho, sobre arquitetura industrial das antigas centrais de computação – entre outros temas tão caros a nossa história das comunicações. Um catálogo que permitisse também expandir as possibilidades de criação de novos conteúdos surgidos a partir de uma plataforma on line, de livre acesso e gratuita. Assim, optou-se pela ferramenta Tainacan, por ser flexível e de fácil usabilidade por parte dos públicos interno e externo.

Importante ressaltar que o que moveu o projeto, para além da gestão de toda a coleção, foi também a viabilização das publicações em formatos de curadorias e/ou editorias organizadas a partir de metadados, criando sempre conexões e sentidos entre as diversas tipologias do acervo.  Trabalho de longo prazo, feito por muitos profissionais com conhecimentos e habilidades específicas, norteado por parâmetros museológicos e de preservação digital internacional.

A digitalização dos acervos, a incorporação dos nato digitais às coleções e a disponibilização em plataformas da internet faz transbordar o ciclo propagador dos bens culturais para além das paredes físicas dos prédios. Não existe mais a diferença entre quem está perto e quem está longe. Com o virtual, não se substitui o valor da experiência de estar diante de um objeto cara a cara, mas ganha-se a possibilidade de fazer com que aqueles que estão distantes vivam a experiência de conhecer, igualmente, o mesmo conteúdo.

Cada vez mais a participação dos cidadãos convoca os museus a tomarem decisões e posturas que dialoguem com as dinâmicas de uma “sociedade global da informação”.  E como nosso museu é pautado pelos eixos “comunicação” e “humanidades” tornou-se inevitável uma reflexão sobre este momento que vivemos todos nós.

Diante de uma pandemia, nos vimos, mais que nunca, confrontados com os desafios da manutenção da garantia de direitos à informação cultural e histórica. A vida digital nos possibilita viver em ambientes e plataformas que antes eram inimagináveis, quebrando paradigmas de espaço e tempo. O cenário atual acabou nos convocando à aceleração do processo de digitalização e nos motivou a criar uma experiência online complementar à vivência presencial no museu. Ao transpor “bordas” e “ilhas”, buscamos uma visão mais ampla e informativa de nosso acervo, de nossa história, de nosso mundo, de nossas vidas.

Bruna Cruz

Coordenadora de Museologia do Oi Futuro

 

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