BATE PAPO COM CHICO CUNHA
05/09/2012
Caminhar pela cidade pode ser mais que um exercício diário, especialmente se a sua presença no espaço público dialogar com a arte. Mas isso nem sempre acontece.
Para entender um pouco mais sobre o assunto, batemos um papo com Chico Cunha, autor da obra Cine Azteca, exposta na fachada do Oi Futuro.
Chico é um dos nomes que acredita na Arte Pública no Rio de Janeiro e que, com essa obra, planta uma semente importante.
– Como você define seu trabalho?
Sempre trabalhei com as possibilidades da narrativa na pintura. Meu trabalho inicial era mais matérico (uma corrente artística) e com alusões à escrita, forma básica da narrativa. Com o tempo, a figura foi entrando cada vez em meu trabalho. Atualmente, faço uma junção de questões que me atraem na pintura: inserção de figuras, paisagens e referências à arte.
– Como a Arquitetura contribuiu para essa definição?
Sempre encarei a arquitetura como uma outra vertente do meu trabalho mesmo, tendo me dedicado à pintura e ao ensino da arte e, paralelamente, realizando projetos, residências, reformas e ateliês. Acho duas situações muito diversas, não vejo influência direta das questões arquitetônicas no meu fazer artístico.
– Por mais que as pessoas se conectem cada vez mais com uso da tecnologia, grande parte do convívio social se dá nos espaços públicos. Entretanto, nem sempre a Arte está presente nesses espaços. Você concorda? Por quê?
Creio que isso aconteça porque o Brasil não tem nenhuma política séria de incentivo às artes nesse sentido. Os governantes sempre enxergam esse campo como supérfluo e quando acontece algo do gênero, como, por exemplo, um painel no metrô, é sempre um desastre, são escolhidos amigos ou artistas totalmente equivocados.
– Como a obra Cine Azteca, exposta no Oi Futuro, se inclui nesse contexto?
É sempre interessante fazer uma obra que vai ter contato direto com o público, que não vai estar ali no cubo branco. Propus uma imagem bem direta, algo como um outdoor que comentasse a história da região. Como você sabe, o Cine Azteca existiu, ficava ali perto e era o mais kitsch dos cinemas cariocas. Deveria ter sido tombado, mas…
– Os termos podem não ser precisos, mas qual seria o “prejuízo” para a vida em sociedade sem o que podemos chamar de Arte Pública?
O “prejuízo” é aquele que vivemos por aqui. Como professor, vejo a falta de educação visual que temos. No Brasil, é preciso correr muito atrás pra se ter o mínimo de cultura visual. Ou seja, nada nas ruas e nada nos museus…
– Seria possível falar em evolução da Arte Pública?
No Rio, especificamente, não. O que existe por aqui são algumas tentativas isoladas. Agora mesmo vivemos um claro exemplo do descaso público. Semanas atrás, o apartamento do marchand Jean Boghici pegou fogo e lá se foram várias obras, Guignard, Di Cavalcanti etc. Não eram obras menores, eram o melhor que eles já produziram, e por que ainda estavam em um apartamento em Copacabana? Por que não estavam em um museu? Por falta de políticas para as artes visuais. Sempre querem construir novos museus, mas os mesmos ficam vazios, porque não criam verbas para compra de acervo nem estimulam a doação através de isenção de impostos.
Em resumo, existem algumas boas obras públicas, mas fruto de atitudes isoladas.
– Planos para o futuro?
Ano que vem faço individual aqui no Rio. Até lá só trabalhar no meu ateliê.
CINE AZTECA
Até 16 de setembro | Fachada
De terça a domingo, das 11h às 20h
Entrada franca | Classificação etária: Livre
(Crédito da foto: Carlos Senna)