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MARCELLO DANTAS: “Arte é uma só, e quando precisa de explicação ou de adjetivo é porque está incompleta”

01/09/2017

MARCELLO DANTAS: “Arte é uma só, e quando precisa de explicação ou de adjetivo é porque está incompleta”

Curador, diretor artístico e documentarista, Marcello Dantas é o nome por trás de algumas das principais mostras de arte no Brasil. Inovou o conceito de museologia no país, trazendo tecnologia, interatividade e recursos multimídia para oferecer o que ele chama de “uma experiência de imersão total”. Agora, ele traz o projeto de arte pública Outras Ideias, com obras dos artistas Makoto Azuma e Daniel Arsham, no Oi Futuro e no Aterro do Flamengo.

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Makoto Azuma

 

OF. Qual o maior desafio em trazer para o Brasil obras de dois artistas que estão em grande ascensão no mundo neste momento?

MD. A principal característica desse projeto é conectar sensibilidades inéditas ao nosso repertório e ideias novas que, a partir de outros pontos de vista, nos ofereçam outras fontes de inspiração. O Brasil, em especial o Rio, tem uma cultura muito autofágica em que ela está sempre se autoconsumindo, e esquece de olhar o outro. O olhar do outro moldou a cultura brasileira através dos tempos. O que teria sido de nossa arte, sem sobrenomes como Verger, Gautherot, Debret, Eckhout?  A proposta é inocular as bases criativas desses artistas no espaço público e oferecer uma conexão com suas outras ideias.  Makoto Azuma criou uma forma de arte muito singular, que explora o efêmero das plantas e flores colocadas nos mais variados contextos geográficos.  Já Daniel Arsham explora a simulação do presente projetado no futuro na forma de ruína.  Esse contraste entre o que entra em decomposição e o que é o resquício é uma metáfora forte dos nossos tempos.

OF. Daniel Arsham e Makoto Azuma desenvolveram especialmente para a mostra “Outras Ideias” obras de grande escala para o Aterro do Flamengo. O que o público verá de mais impactante?

MD. Arsham criou um espaço para meditação. Talvez uma das coisas mais necessárias numa cidade tensa como o Rio. Ali ele bebe na tradição japonesa dos Jardins Zen e cria uma versão contemporânea dele, diante da mais radical paisagem natural da cidade, o Pão de Açúcar. Nesse contexto, ele oferece uma chance de diálogo entre as duas paisagens, a exterior e a interior.

Azuma cria um jardim floral onde a ideia é testemunhar a decomposição. A transformação em biodegradável da obra do artista no contexto da cidade. Esse contraste entre vida e morte, entre o natural e o imaginário, entre o efêmero e o transiente, é a base do trabalho dele, que já mandou ikebanas ao espaço sideral para encontrar a decomposição no vácuo. Hoje, ele oferece a beleza da vida consumindo vida.

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Daniel Arsham

OF. E no espaço do Oi Futuro, como será essa exposição referencial sobre cada um dos artistas?

MD. A ideia é dar uma imersão na obra de cada um com vídeos, esculturas e instalações que ampliam a percepção das suas práticas. Azuma terá um enorme cubo com as flores em decomposição, além dos vídeos de seus vários projetos. Arsham mostrará as suas esculturas em diversos materiais e os vídeos que são um aspecto notório de sua obra.

OF. Arte, ciência e tecnologia: quando e como você começou a misturar esses elementos em seus trabalhos como curador?

MD. Desde o primeiro momento que olhei para arte, eu a vi como uma forma de manifestar de fazer o encontro entre o terreno da emoção e do conhecimento. Ciência, tecnologia e arte são coisas que se contaminam barbaramente. A arte cresce quando é potencializada por elas e a ciência é desafiada e humanizada quando encontra com ideias artísticas importantes.  Sou radicalmente contra fazer uma arte tecnológica: acho que só existe Arte, e o resto são suportes e elementos articuladores como a ciência, a política, a tecnologia ou a cultura. Arte é uma só, e quando arte precisa de explicação ou de adjetivo, é porque está incompleta.

OF. Vc coleciona mostras de nomes importantes, como Bill Viola, Gary Hill, Jenny Holzer, Shirin Neshat, Peter Greenaway e Anish Kapoor.  Como foi essa conquista no cenário internacional?

MD. Uma das minhas motivações na vida sempre foi trabalhar com as pessoas que me inspirassem. Por isso, sempre busquei construir relações com grandes artistas. Fico feliz de poder ter tido o privilégio de aprender muito com os artistas que trabalhei. Eu tenho plena noção do quanto importante isso foi pra mim e ao mesmo tempo espero ter podido conectar o público a essas raras sensibilidades. Essa conquista é feita apenas por muito trabalho e persistência. Não costumo desistir de ideias, mesmo as que não dão certo, sempre dou um jeito de trazê-las de volta.

 

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