O desafio de manter a cultura viva – por Suzana Santos
18/05/2020
Com o isolamento social, restou a explosão digital
A cultura é uma das áreas mais afetadas pela crise que estamos vivendo. Ao mesmo tempo, nunca precisamos tanto da arte e da criatividade para seguirmos fortes em nossa empreitada, como indivíduos e como sociedade, durante e após a pandemia. Nesta jornada para superar as angústias e dificuldades do isolamento social, é a arte que oxigena as ideias. É a arte que possibilita vislumbrar o futuro, lançar o olhar para além das incertezas e estimular sonhos.
Mas como manter a cultura viva em tempos de pandemia? Este grande desafio se coloca aos artistas e criadores, mas também às instituições e equipamentos culturais. Este mês, o Centro Cultural Oi Futuro comemora 15 anos de existência e deparamos com uma questão: como um centro cultural pode permanecer ativo mesmo estando de portas fechadas? Como buscar novas saídas e enxergar adiante?
O Oi Futuro e outras instituições que atuam na cultura fortaleceram sua atuação no ambiente digital e estão explorando novas possibilidades de entrega de arte e cultura para o público. As pessoas estão mais conectadas do que nunca e vivemos uma expansão do virtual sem precedentes, que nos permite conquistar novos territórios e criar novos canais para levar arte e cultura, assim como educação, para mais e mais gente.
Descobrimos que os equipamentos são apenas um dos canais de distribuição de arte e cultura. Os centros culturais podem e devem ser também virtuais. Os conteúdos digitais, como lives, séries, apresentações on-line, webinars, cursos EAD, mentorias e outros, já estavam presentes na vida das pessoas. Estavam na rotina junto com o mundo físico. Mas hoje, com o isolamento social, restou a explosão digital. Essas iniciativas são oportunidades de aprendizagem e de conexão para diversos públicos que estão, como nós, em suas casas, mas que precisam e querem manter suas ideias em movimento.
O crescimento do digital também é estratégico no apoio à classe artística e aos profissionais da economia criativa, que neste momento buscam alternativas para dar continuidade às suas atividades, gerar renda e para explorar novos suportes de criação e conexão com o público. Essa é uma jornada que não passa apenas por uma readequação de linguagem do presencial para o digital, mas sim por uma revisão profunda de todo o ecossistema criativo. Para buscar novos caminhos digitais, a experimentação e o fortalecimento de redes de colaboração passam a ser centrais, tanto para os criadores quanto para as instituições apoiadoras da cultura.
Contudo, nunca os encontros presenciais, olho no olho, foram tão valorizados, pois o avanço do digital não suprime a necessidade da experiência concreta e física. Assim, os equipamentos culturais têm diante de si um caminho híbrido para o futuro, entre a experiência digital e a vivência física, tirando o que há de melhor em cada um dos canais. Enquanto trabalhamos para disponibilizar conteúdos digitais que ajudem as pessoas neste período de distanciamento, precisamos já estar de olho no momento em que finalmente poderemos reabrir as portas, para oferecer experiências capazes de gerar uma forte conexão humana.
Quando tudo isso passar, as pessoas vão voltar aos centros culturais, aos museus, às galerias e aos teatros ávidas por experiências surpreendentes, por alento, por poesia. E nós precisamos estar lá, preparados para recebê-las. O mundo digital e o presencial estarão juntos, como até já estavam. Mas nada será igual. A influência digital e a necessidade de viver o presencial terão marcado a alma de todos. Certamente, vamos viver mais intensamente a visão, o olfato, o paladar, a audição e o tato. Mas a tecnologia e o virtual se confirmarão como ferramentas mais presentes para fazer, promover e disponibilizar a arte e a cultura.
A crise vai passar, e teremos aprendido muito com ela. Até lá, seguiremos firmes e em frente, mantendo a cultura viva e tendo a arte como aliada na construção desse novo mundo que teremos do outro lado do túnel. Um mundo que ainda não existe, deverá ser reinventado por todos, mas que, como diria o poeta Manoel de Barros, precisamos transver por meio da arte.
Suzana Santos
Presidente do Oi Futuro