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Papo de Futuro com Leo Feijó e Geraldinho Magalhães: “O momento é de criatividade e solidariedade”

16/04/2020

Papo de Futuro com Leo Feijó e Geraldinho Magalhães: “O momento é de criatividade e solidariedade”

Foto: Unsplash

“O momento é de criatividade e solidariedade. É hora de mostrar o trabalho e ter uma visão muito além da convencional”, enfatiza Geraldinho Magalhães no Papo de Futuro

Diante do cenário de casas de shows fechadas e festivais adiados por conta do coronavírus, artistas aderiram de vez às performances ao vivo nas plataformas digitais.  Mas, qual a orientação? Veja a análise de dois representantes do mercado da música: Geraldinho Magalhães, empresário e produtor artístico da Diversão e Arte,  já trabalhou com nomes como Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Lenine, Lobão, Sandra de Sá e Marcelo Yuka e foi curador de inúmeros festivais no Brasil e no exterior, e Leo Feijó, jornalista, pesquisador e coordenador executivo do programa Música & Negócios da PUC-Rio, criador de diversas casas de shows, e atualmente morando em Londres, onde cursa o mestrado em Economia Criativa e Indústria da Música. Eles conversaram sobre “Empresariamento Artístico e Planejamento de Carreiras na Música”, durante o terceiro webinar da série “Papo de Futuro”, organizada pelo Oi Futuro e transmitida toda quarta-feira, às 19h, pelo canal do Instituto no Youtube.

No encontro virtual, mediado por Victor D`Almeida, gerente de Cultura do Oi Futuro, Geraldinho dá o recado: “O empresário tem que ser espetacular, dinâmico, agressivo, incrível, acima da média”. Leo Feijó complementa: “Nem sempre viver da música é viver de show. Pode ser de sincronização, entendendo o mercado do audiovisual, por exemplo”.

Confira outras 10 tendências do mercado com o impacto da pandemia apresentadas durante o webinar:

1) O poder da música e os dias atuais

A música tem imensas oportunidades, encontra caminhos e saídas para tudo o que se possa imaginar. E a palavra de ordem, tanto para os produtores, quanto para os artistas é a diversificação. Estamos diante de uma situação insólita. Embora a cultura do streaming, da live ainda não monetize a contento, novos caminhos estão surgindo como a contrapartida para fãs e espaços e o potencial do mercado de sincronização, que é licenciamento das músicas para o audiovisual. Também já se identifica a migração de investimento de empresas, para as transmissões ao vivo de forma mais intensa.

 

2) Caminhos que surgem

Ainda são exercícios. Dois grandes festivais na Noruega, por exemplo, conseguiram converter para versões online boa parte do line up, inclusive, mantendo os cachês. A Midem, importante feira de música em Cannes, vai acontecer também online, em junho. Claro que são algumas alternativas e com um patamar de artistas que podem explorar essa possibilidade. Não há dúvida de que o mercado vai mudar. E quando começar a reabertura, os pequenos negócios serão os favorecidos, beneficiando as casas de shows menores, com ambientes menos aglomerados. A Stageit, com sede nos Estados Unidos, desde que começou o isolamento, faturou 50% de tudo o que ganhou em 2019. No Brasil, a Open Stage, do Rio Grande do Sul, está facilitando o mometização das lives.

 

3) Relacionamento com os artistas

Nunca esteve tão à prova o relacionamento do empresário com o artista. É a hora da verdade, do relacionamento saudável e de confiança, cumplicidade e criatividade, e que sobreviva a esse momento, com as eventuais perdas de ganhos. Os shows agora são minimalistas e no reaquecimento do mercado, as próprias lives vão começar a se incrementar. É tempo de renegociar, de explorar positivamente todas as atividades do artista. Ninguém larga a mão de ninguém. O networking, com suas possibilidades de  parcerias, nunca funcionou tanto. Há necessidade de troca, de buscar saídas.

 

4) O bom atendimento é fundamental

Não adianta ter um produto excepcional. Precisamos de pessoas educadas, pacientes e preparadas para representar o que se vende. É o para-choque e as boas-vindas para um bom negócio, especialmente nos pequenos e médios empreendimentos artísticos. Tem que estar muito bem protegido e defendido.

 

5) Exportação

Licenciamentos, shows pontuais e turnês. O trabalho de exportação da música brasileira é muito sério. O mercado internacional, no momento, está totalmente fechado. Há inúmeros shows cancelados, alguns sendo transferidos para o próximo ano. Teremos uma transição paulatina e lenta. É inevitável que comecem aparecer os pequenos espaços.

 

6) Os novos rumos do empresariamento

Como o artista vai se conectar com seu público? É esse o momento de lançar um trabalho novo? Muitos tiveram que adiar. Se há um clipe pronto, por exemplo, deve ser lançado porque o público precisa de alegria. Ele quer ver o artista ali, na hora. Quanto às lives remuneradas, o empresário deve ter alguma remuneração. É a hora de ser solidário. Nessa época, não pode ser cada um por si. Tem havido um compartilhamento de ideias como nunca foi visto. O ovo de Colombo é a monetização, e a única forma possível é através de patrocínios.  Marketing digital, promoções e oportunidades de negócio também são algumas saídas.

 

7) A importância do empresário hoje na carreira do artista

Mais do que nunca, é preciso buscar novas formas e soluções. O relacionamento do artista com o empresário está passando por uma prova de fogo. É hora de mostrar o trabalho e ter uma visão muito além da convencional. Um momento de muita superação. Anita Carvalho, pesquisadora da ESPM no Rio de Janeiro, publicou um estudo importante sobre o empresariamento artístico no Brasil: muitos que estão se iniciando na carreira da música não sabem o papel fundamental do empresário e em que momento devem procurá-lo. E a pesquisa, publicada no site da UBC,  indica que as chances de sucesso são quando se tem um empresário. Artistas que se auto-empresariam fazem uma média de dois shows por mês, com um faturamento médio de R$ 10 mil, já os que têm escritório de empresariamento alcançam quase sete shows mensais.

 

8) Como começar a ser um empresário

Qual é a abordagem ideal neste processo? Como um artista iniciante chega ao empresário? Tem que estar junto e mostrar o seu trabalho. Uma relação começa bem quando há duas pessoas educadas. Se você trata o outro bem, isso tem volta. Amanhã ganhará, quem sabe, um patrocínio. Já para ser empresário, tem que começar do zero. Atualmente, há muitos cursos e formação acadêmica. Estagiar num escritório é a melhor  opção.

 

9) Os passos para estruturar um bom produto

Excelência é a palavra de ordem neste mercado tão competitivo que temos hoje. Antes,  era a tecnologia trazendo a paridade de  produção. Agora, é a possibilidade de apresentar os trabalhos de igual para igual. Porém, tem que ser incrível! Um recado, sobretudo para os artistas iniciantes: nem sempre viver de música é viver de show. É claro que se vai construindo uma carreira, formando público e atingindo palcos maiores e aprendendo a colocar sua música no mercado audiovisual.

 

10) Os impactos do momento para o mercado da música

Vai ocorrer um redimensionamento de plateias, com um prognóstico de favorecimento de pequenos espaços, num primeiro momento. E, mesmo depois, não vai ser fácil para os grandes espaços, tanto sob o ponto de vista financeiro do público, quanto pela paranoia de aglomeração. São obstáculos que o “ao vivo” não vai voltar do jeito que era. Outro aspecto é a redução de cachês, o que é muito ruim. Assim como na economia familiar, tem que se fazer cortes e reduções, isso vai ocasionar um efeito dominó para toda a cadeia. Será preciso se readaptar a esta situação, com mais criatividade, solidariedade e bons conteúdos nas lives. Há excelentes oportunidades de criar novos projetos, valorizando, por exemplo, o pessoal da técnica, os músicos de apoio. E nem todos os artistas têm esta preocupação. É hora de se fazer a diferença.

 

Você pode conferir a íntegra do encontro online sobre o tema Empresariamento artístico e planejamento de carreiras na música” aqui.

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