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“As Mil e Uma Noites: uma história por noite” por Leandro Romano

17/08/2018

“As Mil e Uma Noites: uma história por noite” por Leandro Romano

O processo de criação de As Mil e Uma Noites durou cerca de 6 meses. Iniciamos o trabalho em janeiro entrevistando refugiados árabes que vivem atualmente no Brasil. Para isso, tivemos o apoio de Hadi Bakkour (professor de árabe no Abraço Cultural e refugiado sírio) no processo de tradução das conversas. Ao todo, foram 9 entrevistados de 4 países (Síria, Líbano, Marrocos e Egito).

O processo de entrevistas durou cerca de 3 meses. Durante os encontros, tivemos a oportunidade de entender melhor os eventos da Primavera Árabe (do ponto de vista de quem a viveu) e de entrar em contato com realidades muito diversas da nossa, mas ao mesmo tempo tão parecidas. Fato é que, ao conversar com estas pessoas, acabamos percebendo as semelhanças da Primavera Árabe com a crise política brasileira. Evidentemente, cada um desses eventos possui suas próprias particularidades, mas a raiz é praticamente a mesma: uma insatisfação enorme com os caminhos políticos do país somado a uma certa ingenuidade sobre a possibilidade de mudança.

Estas descobertas foram essenciais para o restante do trabalho uma vez que nos serviram como norte. Isto é, tudo o que realizamos depois estava em relação direta com estas conversas. A segunda parte do processo nos possibilitou realizar um aprofundamento teórico sobre o livro. Fizemos leituras constantes a fim de “destrinchar” a obra, afinal, trata-se de um livro de grande volume com muitas histórias e conteúdos diversos, além de haver um entrelaçamento (uma história dentro da outra) que muitas vezes confunde o leitor. Este momento foi importantíssimo não somente para compreender o livro como um todo, mas também para delimitar a estrutura geral da peça.

O processo de ensaios foi bastante intenso (seis horas por dia, de segunda a sexta). Ao todo, foram 50 ensaios, ou seja, cerca de 300 horas de trabalho. Desde o início, tínhamos que lidar com o fato de que era humanamente impossível para os atores decorarem a dramaturgia na íntegra, já que esta – no fim das contas – esta teria mais de 500 páginas. Portanto, fomos desenvolvendo jogos e exercícios que possibilitassem ao elenco estar em cena sem saber o texto. Aos poucos, criamos jogos de improvisação, de escuta e de presença, sempre preocupados com a variação das formas (sombras, leituras, expressão corporal etc.). Nossa preocupação, porém, era fazer com que estas formas fizessem sentido com o conteúdo. Neste sentido, dividimos cada história em 6 partes e, para cada parte, selecionamos o jogo que fosse mais apropriado para a cena.

Assim, construímos um espetáculo único, constituído de 33 apresentação, em que cada uma delas não volta a se repetir. Foi um desafio enorme e, depois de ter estreado (estamos agora chegando na apresentação número 19), podemos dizer com toda segurança que ainda é um desafio. A cada dia, chegamos no Oi Futuro sem saber o que de fato acontecerá. E isso é um presente! Lidar com uma estrutura tão frágil, mas ao mesmo tempo tão rica, é o que faz a experiência teatral ser ainda tão necessária nos dias de hoje.

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