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Papo de Futuro: “Vamos conseguir chegar lá”

25/10/2021

Papo de Futuro: “Vamos conseguir chegar lá”

“Mulheres na Música – Quando chegará a nossa vez?” é o tema desta edição do Papo de Futuro, que conta com as participações de Vanessa Schütt, há mais de duas décadas na área de Direito Autoral e coordenadora de Novos Negócios da União Brasileira de Compositores, e Ana Morena Tavares, produtora cultural, curadora, musicista e presidenta da Abrafin (Associação Brasileira de Festivais Independentes). As duas convidadas debatem a representatividade, os desafios e as oportunidades para a ampliação da atuação feminina no mercado fonográfico. A mediação é de Luciana Adão, coordenadora de Patrocínios Culturais do Oi Futuro. A série Papo de Futuro, organizada pelo Oi Futuro, é transmitida pelo canal do Instituto no Youtube, com acessibilidade em Libras.

“A UBC tem sete filiais, todas gerenciadas por mulheres”, destaca Vanessa Schütt. “Precisamos estar o tempo inteiro reafirmando a nossa capacidade”, enfatiza Ana Morena Tavares.

Confira abaixo dez reflexões de Vanessa Schütt e Ana Morena Tavares sobre o tema “Mulheres na Música – Quando chegará a nossa vez?”.

1) A trajetória de Ana Morena

De Natal (Rio Grande do Norte), é idealizadora e sócia do Combo Cultural DoSol, que completou, em 2020, duas décadas de atividades, e congrega selo de música e uma incubadora. Manteve um espaço cultural aberto nos últimos 15 anos. “Temos uma produtora de vídeo, com uma documentação histórica da música brasileira e também de fora. Realizamos, ainda, uma série de eventos, sendo o mais conhecido o Festival DoSol, com 17 edições”. Em maio de 2021, Ana Morena foi eleita presidenta da Associação Brasileira de Festivais Independentes. Ela é baixista da Camarones Orquestra Guitarrística, banda de rock instrumental com 13 anos de história e oito de discos lançados, e que já circulou pelo Brasil, Europa e Estados Unidos.

2) Sobre Vanessa Schütt

Ingressou no Direito, fez três anos de faculdade e abandonou. “Vi que não era para mim”. Trocou pela Administração, mais para a área do Marketing, e trabalha com Direito Autoral, há pouco mais de 20 anos. Começou no escritório de advocacia Henrique Gandelman, especializado em Administração de Direitos Autorais, e foi convidada para a UBC (União Brasileira de Compositores), onde percorreu uma bela jornada. “Implantamos o sistema digital, passei pelo Artístico e Repertório, recentemente fui para a Comunicação, onde permaneci sete meses, e hoje estou na área de Novos Negócios. Vou me transformando aqui na UBC, e gosto bastante disso”, acrescenta Vanessa.

3) Qual o lugar da mulher brasileira na música?

“É o lugar onde ela quiser estar”, responde Vanessa, lembrando que isso está mudando ao longo do tempo. “Adquirimos referências, batalhamos para estar em todos os lugares”. Foi produzido um Relatório, ouvindo todas as mulheres associadas à UBC, onde 252 delas responderam, e 79% contaram que já tinham sofrido um tipo de discriminação. “São depoimentos muito tristes, mas necessários de serem ditos, porque a gente acredita que discutindo o assunto possamos mudar o cenário”. Entre as ações, Vanessa cita a Jam Session de Mulheres, promovida um pouco antes da pandemia, com o maior sucesso, além de debates, tendo como entrevistadora a jornalista Fabiane Pereira. E, ainda, as entrevistas no Instagram da UBC. “Procuramos realizar essas ações, não apenas no mês de março, quando se comemora o Dia Internacional da Mulher, mas durante o ano inteiro. Criamos, em 2021, o “Troféu Tradições”, e homenageamos Anastácia, a “Rainha do Forró”, de 81 anos, e um grande exemplo de mulher, sem o reconhecimento que merecia. Ela tem 685 composições cadastradas, e é parceira dos maiores sucessos do Dominguinhos.

4) Relatório “Por Elas que Fazem a Música”

Vanessa apresentou os dados do último Relatório, de 2021. É um levantamento da participação da mulher na música, tendo como referência a base de dados da UBC. O objetivo é promover o debate sobre o equilíbrio de gênero na música a partir da observação e do registro de eventuais mudanças ao longo dos anos. Desde a primeira edição, em 2018, o crescimento do número de mulheres associadas foi de 68%. Apesar disso, as mulheres continuam compondo apenas 15% do quadro de associados, dentro de um universo de 45 mil titulares. No entanto, elas conseguiram representar 17% de todos os titulares que se filiaram em 2020. A maior parte das associadas está na faixa entre 18 e 40 anos, considerado um ótimo índice porque está se criando uma renovação. Outros dados: 64% dos titulares da UBC estão no Sudeste, 14% no Nordeste, 9% no Sul, 8% no Centro-Oeste e 2% no Norte. Comparando com 2019, houve um aumento de 12% no cadastro feito por autoras e versionistas. Já em relação aos fonogramas, o cadastro com participação de intérpretes femininas aumentou 9%, de músicas executantes cresceu 8% e de produtoras fonográficas, 21%. Quanto à participação por gênero, as mulheres se destacam entre os versionistas. Dos 100 titulares com maior rendimento vindo do exterior, 12 são mulheres. E uma notícia boa: de todas as pessoas que acessaram as principais páginas do site da UBC, 425 são mulheres, o que revela a busca por informação e aprendizado do público feminino.

5) As desigualdades que rodeiam o mercado

“É impressionante como a gente é criado. Quando você é a única mulher em algum lugar, pensa: nossa, estou arrasando! Eu, pelo menos, durante uma parte da minha trajetória, entendia isso como sendo a única mulher no lineup inteiro do Festival”, observa Ana Morena. “Depois, imaginei: por que sou a única mulher entre 30 bandas? Mas, quando o DoSol começou a realizar projetos, isso passou a me incomodar bastante. Temos poucas mulheres ainda trabalhando ativamente em uma série de setores. E o ASA (Arte Sônica Amplificada, parceria do Oi Futuro com o British Council) é o tipo do projeto que, em mim, brilha os olhos porque temos muito caminho a percorrer, em pouco tempo. É um processo lento, que estamos tentando agilizar. Viajando e presenciando festivais em todo canto, eu vejo que já existe um empoderamento de fato. Nunca mais eu fui a única mulher. Fazemos esse trabalho na incubadora do Sol”.

6) A questão da representatividade

“Estamos sempre procurando trabalhar de uma forma que os incubados e as equipes sejam mistas e representativas. E os Festivais são peça fundamental na questão do equilíbrio. Eu não consigo mais encampar uma luta só pró-mulheres; estou na luta pró-diversidade. Precisamos de uma representatividade de uma forma geral, e é isso que nós temos procurado”. Ana Morena conta, também, que em 2019, criaram uma Oficina Técnica de Áudio para Mulheres. Das 15 vagas abertas em Natal, em um dia, recebeu mais de 100 inscritos. “Precisamos, cada vez mais, ampliar essas ações, porque o jogo, para ser equilibrado, ainda vai demorar um pouco. É injusto fazer comparações com homens que estão aí desde que o mundo é mundo e mulheres que estão há dois, três anos, dando sangue para conseguir fazer valer. E, se tem uma coisa que a gente sabe, é correr atrás”.

7) Mais ações de formação ou criar espaços de decisão?

Vanessa responde: “Com certeza, acho que deveria existir mais ações para mulheres na música, sempre, no sentido de diminuir essa discrepância mais rápido. Quanto mais, melhor”. Ana Morena acrescenta: “São coisas paralelas, para serem realizadas ao mesmo tempo. No DoSol, eu ainda não consigo esse equilíbrio na área técnica, a não ser no palco. No Festival, eu importo algumas mulheres para fazer o trabalho de áudio. Precisamos formar as mulheres, tecnicamente”.

8) O olhar delas na posição de liderança

Vanessa sempre se questionou se era capaz, se sabia o suficiente. “É um questionamento que é muito da mulher. Talvez sejamos mais perfeccionistas. O homem se joga, vai, pronto, acabou, sempre se acha o melhor. Eu até compartilhei isso, nos últimos anos, sobre o assunto. Acho que vamos melhorando e, acreditando na gente um pouquinho cada dia, vamos conseguir chegar lá.”

9) A pandemia criou mais redes de apoio ou afastou a presença feminina?

“Dos nossos 45 mil titulares, só esse ano tivemos mais 6.500 novas filiações. As pessoas, estão, sim, buscando saber mais, vender mais. Vamos lançar agora o “Projeto Impulso”, de capacitação, educação, mentoria. Não tenho certeza se as mulheres se uniram. Posso falar como um todo”, relata Vanessa. Ana Morena observa: “Acho que as mulheres estarem se unindo é algo pré-pandemia. Já vínhamos nesse processo. Vi menos mulheres mudando de trabalho, deixando a música, do que os homens. Talvez porque elas já estejam tão habituadas a trabalhar na adversidade, no acúmulo de funções”.

10) As mulheres que inspiram

Vanessa: “Sobre mulheres que tenho escutado esse ano, estou apaixonada pela Agnes Nunes, que foi uma das participações da quinta edição do Prêmio UBC. A apresentação dela foi de uma imensa doçura. Mas, cito outras também como a Elisa Fernandes, a Xênia. Na área de Direito Autoral, a primeira que me inspira é a Elisa Eisenlohr, que iniciou o Relatório das Mulheres. A ela, presto a minha homenagem”.

Ana Morena: “Poderia apontar várias, mas vou no clichezão porque sou o que sou hoje, uma mulher preta, emponderada na música e fazendo o que eu gosto, graças à minha mãe, dramaturga, escritora, professora e atriz Clotilde Tavares. Cito outras duas: Luciana (Adão), que está aqui na minha frente, e a vice-presidenta da Abrafin, Sara Loiola. E mais três: Bixarte, rapper e poeta da Paraíba, Luísa e Os Alquimistas, artista potiguar, e Coisa Luz, de Mossoró”.

Você pode conferir a íntegra do encontro online sobre o tema “Música – Quando chegará a nossa vez?” aqui.

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