Viva Hermeto!
25/08/2016
Alagoano, reconhecido como um dos mais inventivos nomes da música nacional, o bruxo multi-instrumentista ou o “albino-maluco” como Miles Davis o apelidou, é capaz de tirar um som de qualquer coisa – animais, natureza, objetos do cotidiano. Em setembro, ele estará no Festival Multiplicidade, com uma instalação no Oi Futuro Flamengo. Vamos todos para as galáxias de Hermeto Pascoal!
OF. Como é completar 80 anos e continuar a ter esse espírito tão jovem, seguido por milhares de fãs e fazer uma música sempre inovadora?
H.P. – É isso aí… Eu sou aquele cara que sempre acha que o corpo da gente é o nosso carro, é o nosso avião, é o nosso transporte aqui na terra. É por isso que eu digo: nada na alma não envelhece nunca. A alma está em todos os momentos da vida da gente. Estamos felizes e eu tenho certeza que nasci 100 por cento para a música. Sou músico, músico, músico, até Deus me levar…
OF. Você está retornando de uma temporada de shows no Brasil e na Europa, passando por países como Espanha, Holanda, Inglaterra e Alemanha. Fale um pouco sobre estas recentes apresentações.
HP. Olha, eu já estava com muitas saudades de voltar à Espanha, voltar às cidades onde nós já tocamos na Inglaterra, na Alemanha. Eu fiquei muito feliz de fazer esse trabalho. Tanto faz estar na Europa como no Japão. Eu faço música universal. É a música da terra, do planeta, dos universos…
OF. O público que comparecer ao Oi Futuro Flamengo, encontrará uma instalação criada especialmente para o Multiplicidade. Como é participar do Festival?
HP. Eu não premedito nada. Tudo isso é música também, a música não está fora desse contexto não, entendeu? Porque ela inspira com imagem, ela inspira tudo o que você possa imaginar. Então essas pessoas que vão lá ver essas imagens, vão tirar suas próprias conclusões.
OF. Por pensar em música o dia inteiro, dizem que você habituou-se não apenas a usar todo tipo de objeto para extrair som, mas a enxergar praticamente qualquer coisa como uma partitura em branco. É verdade que até nas viagens de avião, por exemplo, vc costuma escrever notas musicais nas páginas das revistas de bordo?
HP. Suas perguntas são interessantes. Você falou um negócio agora, uma folha de papel branca. Faça de conta que cada vez que eu faço uma coisa, essa folha de papel é a minha mente, ela não se acaba nunca, está sempre branca. É como se fosse uma nascente. Água, água… Quando a gente tira água de uma nascente, ela vai gostando mais e vai nascendo mais água. A minha mente é assim porque Deus me fez assim. Pra mim o importante é não premeditar, deixar as coisas fluírem. A mente é o que transmite para o corpo tudo que vem do céu, das galáxias. Viver é a maior fonte de alegria e prazer. Então toquem e cantem minha gente, amem-se e se abracem até o dia amanhecer.
OF. Como é seu processo criativo?
HP. É por isso que as pessoas me perguntam essa coisa de idade. A idade que eu nasci eu posso me lembrar dela no meio de uma pergunta dessa. Eu posso me sentir aquela criancinha nascendo inclusive, entende? Então o que eu digo pra você é que premeditar atrapalha. O tempo que eu vou viver na terra eu não vou ter tempo para te responder essa pergunta. Eu não sei as coisas que faço, não é saber, é sentir…
OF. Vc já recebeu convites para tocar com John Lennon, Tom Jobim, Elis Regina e Roberto Carlos, e tem sido tema de mestrado. Como vc se classifica como músico atualmente?
HP. Eu nunca gosto de dizer que eu sou o único, porque dizer que é o único é vaidade, é pretensão, então não gosto de dizer, mas talvez eu seja o único no mundo que é lido, que é estudado nas escolas, que é observado pelos músicos. Eu não sou professor direto de ninguém. A minha música é que é o professor.