Em busca de um pilar
23/08/2017
Participantes do Summer Job, em Recife, desenvolveram uma plataforma digital para estimular a inclusão social de jovens e crianças da comunidade do Pilar
Com o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Recife, a comunidade do Pilar, que fica na área do Recife Antigo, recebeu durante seis semanas a visita constante de um grupo de estudantes interessado em soluções para a situação precária do local, que vive em extrema pobreza, sem saneamento básico e com forte incidência do tráfico. O objetivo do grupo, constituído por quatro alunos de universidades distintas, era criar uma solução tecnológica escalável e replicável para os moradores da região de modo a combater alguns dos vários problemas da comunidade. O projeto, apelidado de Desafio da Cidade, foi uma iniciativa do Oi Futuro, que através do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, o CESAR, desenvolveu para a ONG Instituição Plano B, forte atuante na região, o PASSO, uma plataforma digital para estimular o protagonismo social e o senso de coletividade de crianças e jovens do Pilar. “O que me deixou muito feliz foi ver a inquietação desses quatro jovens durante todo o tempo do projeto. Eles não construíram uma verdade absoluta e fizeram questão de conversar com a comunidade quantas vezes fosse preciso para entender os seus problemas. Eles entraram no projeto de uma maneira e saíram de outra”, explica Flávia Vianna, coordenadora de Inovação Social do Oi Futuro, que acompanhou as etapas finais do Summer Job – como é chamado o projeto dentro do CESAR.
Totem PASSO
Diferente de outros projetos executados no CESAR, para o Summer Job o Oi Futuro propôs um desafio inédito, que consistia em unir tecnologia e inovação social com um diálogo direto com a cidade. A começar pelo local onde tudo aconteceu: o Porto Digital. A região de 80 mil metros quadrados, que atua como um grande parque tecnológico, é base de diversas empresas de tecnologia, economia criativa e comunicação. É lá que ficam o CESAR, a Instituição Plano B e é bem próximo de lá também que se localiza a comunidade do Pilar. Uma das questões observadas pelos alunos e pela equipe que os acompanhou era a desigualdade gritante que havia na região, onde de um lado estava todo o aparato tecnológico e, do outro, condições humanas precárias. Ao realizarem um processo de imersão no Pilar, os alunos detectaram que as principais reclamações giravam em torno dos animais soltos nas ruas, do lixo a céu aberto e da desunião da comunidade. “Percebemos que eles não sabiam viver em comunidade porque havia uma situação de vida muito precária. Não há geração de renda fixa entre as famílias e não há a figura de um líder comunitário geral. É cada um por si. E isso fez com que nós desenvolvêssemos um projeto que focasse nos jovens e estimulasse o pensamento crítico, a criatividade a as habilidades interpessoais”, explica Thiago Miranda, estudante de Engenharia da Computação e um dos selecionados para o projeto. Ao lado dele, participaram ainda a estudante de Publicidade Dimitria Novaes, a estudante de Engenharia Civil Maria Cecília Jucá e o estudante de Engenharia Elétrica Lucas Esteves Costa.
PASSO
O protótipo do PASSO se baseou em totens digitais espalhados pela comunidade onde os jovens poderiam criar os seus perfis de forma simples e intuitiva. A estratégia de gamificação adotada na plataforma permitiu acessos a quizes de diversos assuntos relacionados ao protagonismo social que acumulam pontos e futuramente poderão ser trocados por ingressos em cinemas, teatros, parques e estádios de futebol. Desta forma, os alunos enxergaram uma estimulante maneira de trabalhar sobre dois pilares fundamentais na comunidade: educação e inclusão social. “A gamificação foi fruto de pesquisas dos próprios jovens, que quebraram padrões de pensamento ao perceber que, mesmo em casas sem fogão ou geladeira, havia pelo menos um membro da família com um aparelho celular. Ou seja, totalmente familiarizado com este conceito tecnológico de games”, complementa Flávia Vianna. Segundo a gerente de negócios do CESAR, Paula Marques, que atuou no projeto oferecendo mentoria aos alunos, o formato proposto gerou um imediato interesse na comunidade. “Eles deram os tablets para os meninos e, à medida que foi havendo a percepção de ganhar pontos, as pessoas começaram a usar a plataforma”, explica Paula, sobre o período em que o PASSO estava em fase de testes.
Visita da turma à comunidade do Pilar
Sem a pretensão de se tornar a solução da comunidade do Pilar, mas sim um agente de transformação da juventude do local, o PASSO se propõe a desenvolver um senso crítico e a suprir uma carência dos habitantes da região, de modo a ser eficaz em toda a sua extensão: mudando a forma de pensar da equipe envolvida e oferecendo aparatos sociais a quem é beneficiado pela plataforma. “Foi um choque de realidade para todos os estudantes, eles nunca tinham se deparado com a pobreza de verdade e perceberam que o que essas pessoas precisam não é de assistencialismo, mas do que lhes é de direito”, explica Igor Sacha, diretor da Instituição Plano B. “Estamos realizados em ter dedicado nosso tempo e esforço para uma causa tão inovadora e transformadora”, finaliza a estudante Maria Cecília Jucá.