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Papo de Futuro: “Uma mudança não acontece em linha reta”

28/05/2020

Papo de Futuro: “Uma mudança não acontece em linha reta”

Fala-se muito de projetos e negócios de impacto, mas pouco sobre o que se quer mudar efetivamente. O que fundamenta a ação dessas iniciativas para além do propósito de cada empreendedor é ter clareza do que se quer mudar. Assim, é importantíssimo saber qual a teoria de mudança que o projeto ou negócio se apoia para desenvolver sua solução. Antônio Ribeiro, sócio-consultor da MOVE Social desde 2011 e facilitador no campo de Gestão de Impacto Socioambiental, compartilhou sua experiência sobre o tema “Teoria da Mudança: da estratégia à avaliação de impacto social”, durante o oitavo webinar da série “Papo de Futuro”, organizada pelo Oi Futuro e transmitida toda quarta-feira, às 19h, pelo canal do Instituto no Youtube.

Antônio é Mestre em Psicologia Social pela USP, com formações complementares em Avaliação de Iniciativas Sociais, Gestão e Facilitação, Antônio Ribeiro se dedica ao estudo de Teorias de Mudança, Diplomacia Cultural, Impacto Coletivo e Culturas Regenerativas. No encontro virtual foi mediado por Alan Nascimento, do Oi Futuro, Antônio ensinou o passo a passo da construção de uma Teoria de Mudança, desde entender a importância do impacto que se espera promover até a construção de uma narrativa de impacto coerente e correta para seu público de interesse, além de ter clareza para definir seus indicadores de curto, médio e longo prazo. E ressaltou: “Não dá para operar a Teoria de Mudança se não tivermos capacidade organizacional”.

 

Confira abaixo dez reflexões de Antônio Ribeiro sobre o tema “Teoria da Mudança: da estratégia à avaliação de impacto social”:

1)O que é a Teoria de Mudança?

Proposta que surgiu na década de 1990, a Teoria de Mudança ajuda a escrever e a contar uma história sobre como vamos mudar o mundo. Geralmente, os empreendedores, enfim quem trabalha neste tipo de iniciativa, conta uma história, citando desde a sua criação, o que faz, que mudanças quer provocar ou influenciar. No entanto, percebemos que esta história nem sempre é bem contada. É muito comum ter boas respostas para essas primeiras perguntas. Mas, quando nos aprofundamos e queremos saber quais as mudanças no curto, médio e longo prazo, quais as principais intervenções para gerar os conjuntos mais importantes de resultados, percebemos que a história pode melhorar. E a Teoria de Mudança permite qualificar essa história, propondo uma maneira de olhar e organizar melhor a lógica entre o que a gente faz e o que buscamos. Apresenta uma relação de causa e efeito, e vai provocar no grupo com o qual trabalhamos perguntas para olhar algumas dimensões específicas. Ao falarmos, por exemplo, de um projeto socioambiental, pode ser que o foco de uma intervenção seja um território, uma área de preservação ambiental. A Teoria de Mudança divide esse grande bloco de efeitos em três naturezas: das realizações, do produto e dos resultados e impactos. Enfim, a partir de uma metodologia que é processual e coletiva, podemos organizar a nossa iniciativa de maneira ordenada, onde tudo se liga. No final, isso nos ajuda a comunicar melhor.

2)Qual o melhor ambiente para acontecer?

Teoria de mudança é um processo e um produto. Diferentemente de outras ferramentas, esse processo tem que ser coletivo, e isso significa reunir as diferentes pessoas que fazem parte da nossa iniciativa. Outro diferencial é ser um processo dinâmico (tem idas e vindas). Há, também, uma ligação entre todos os elementos. O Guia Prático de Avaliação para Negócios de Impacto Social, lançado pela MOVE, em 2017, com a coordenação da Artemísia e Agenda Brasil Futuro, inclui um capítulo inteiro sobre Teoria de Mudança. Falar sobre esse tema é ser crítico, é olhar para a nossa intencionalidade dentro do nosso negócio.

3)O passo a passo

Basicamente, a Teoria de Mudança começa a ser construída a partir da Conexão com o contexto. Se não conhecermos o contexto onde atuamos, não entendemos os problemas, os desafios, o que queremos enfrentar. Seguimos com as Mudanças esperadas. Muitas vezes, essas mudanças já estão acontecendo; basta organizá-las de uma forma ordenada. Em seguida, começamos a registrar as Atividades-macro, o fazer. O próximo passo é o Público ou foco, ou seja, quem irá receber essas atividades. Na sequência, vem o item Realizações e produtos, passando-se depois para a parte de Pressupostos, o que significa perguntar: Como faço isso para esse público, esperando esse resultado? E, finalmente, chegamos ao Aprimoramento da construção.

4)As nomenclaturas propostas

O que fazemos? São as intervenções e as atividades macro. Para quem fazemos? Público ou foco. O que geramos ou influenciamos? São os efeitos. A Teoria de Mudança traz três naturezas de efeitos: Realizações e Produtos: outputs, entregas imediatas e contabilizáveis derivadas do que fazemos. São quantificáveis e podem ser vistas objetivamente. Exemplo: em um negócio de impacto que trabalha com produtores rurais, há uma atividade macro que é a capacitação para esses produtores. Quais seriam as realizações imediatas? Podemos ter o número de oficinas para realizar as formações, cartilhas ou produtos visuais para apoiá-las. Resultados: transformações geradas diretamente pelo que fazemos, temos alta governabilidade, geralmente de curto e médio prazo; e Impactos: são transformações iniciadas pelo que fazemos, temos menor governabilidade e dependem de outros fatores.

5)O modelo C

A relação entre negócios e Teoria de Mudança não deve ter uma cisão. Precisa gerar impacto e renda e, ao mesmo tempo, ter uma perspectiva de lucro. Existe sempre um modelo de negócio atrelado a uma Teoria de Mudança. Especialistas da MOVE criaram o Modelo C, completo, compreensível, colaborativo, constante e de conteúdo vivo. O Modelo C respeita, valoriza e se nutre das duas abordagens, porém, com o grande diferencial da abordagem e não apenas uma ferramenta, contribuindo para amadurecer negócios de impacto mais sustentáveis e efetivos em sua capacidade de transformação da sociedade. A iniciativa vem sendo muito utilizada em diferentes perspectivas, como na Amazônia, trabalhando, recentemente, com empreendedores locais.

6)Clareza na comunicação

Como inserir as mudanças na comunicação do negócio? Quando temos clareza da narrativa de impacto fica muito mais fácil comunicar a nossa iniciativa e mostrar seu valor. Diversos negócios de impacto enfrentam dificuldades. É muito diferente ter um negócio de impacto que trabalha, por exemplo, com polpa de fruta da Amazônia com comunidades ribeirinhas. Mas, gerando impacto para essa população, e não simplesmente sendo uma empresa que trabalhe com polpa, sem ter uma preocupação social. A Teoria de Mudança vem sendo cada vez mais solicitada pelos investidores.

7)O que está sendo pensado agora

No campo de impacto social, convivemos bastante com a complexidade. Uma mudança não acontece em linha reta. Depende de vários aspectos, como uma política de governo, uma construção de parcerias e, inclusive, de fatores que nem conseguimos prever, como é o caso dessa pandemia. Uma discussão muito comum atualmente é a Teoria de Mudança lidando com impacto coletivo. E também para coalizões, para grupos que estão trabalhando juntos nesta perspectiva. Se hoje não ter uma Teoria de Mudança sobre a narrativa de impacto é algo que já está atrasado, daqui a pouco tempo ter apenas a Teoria de Mudança sem nenhuma conexão com organizações que estão trabalhando no mesmo território, ou seja, ao lado de outros que buscam o mesmo objetivo, isso estará fora de moda. Estamos em um momento em que exigimos mais da Teoria de Mudança enquanto ferramenta.

8)As perspectivas pós-crise do coronavírus

A Teoria de Mudança está crescendo, principalmente, nos negócios de impacto social. No ano passado, todos os investidores com quem tivemos contato já queriam aplicá-la. A pandemia faz com que tenhamos mais precisão naquilo que realizamos. Não que tivéssemos um cenário para fazer as coisas efêmeras ou com pouca profundidade, mas com a escassez de recursos, a necessidade de estarmos mais coesos enquanto população, enquanto organizações, estamos sendo cobrados, precisamos responder com mais precisão naquilo que estamos oferecendo. Mais do que nunca, devemos ser mais eficientes. Há muitas organizações com risco de fecharem as portas. Mas, será que elas não podem olhar para quem está do lado? E, eventualmente, vendo que o vizinho faz o que eu faço, eu paro de fazer uma das coisas que eu faço. Vamos sentar juntos!

9)Objetivos de longo prazo

Esses objetivos podem e devem ser atrelados aos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), coleção de 17 metas globais, estabelecidas pela Assembleia Geral das Nações Unidas.  Temos encorajado reflexões a partir dos ODS e precisamos celebrar e valorizar isso. Relacionar essa cadeia de resultados e de efeitos aos ODCs é muito bom porque ajuda a distinguir quais são os prioritários ou eleger, dentre todos, um que represente mais o nosso negócio. Além dos 17 ODS, todos trazem metas e muitas delas podem ajudar a qualificar os nossos resultados. Lembrando que todos os ODS estão interconectados, e é muito difícil pensar em um ‘bom’ mundo, como nós queremos, deixando algum de fora.

10)Existe um momento ideal?

A Teoria de Mudança é sempre bem-vinda, a qualquer momento. É um processo que exige tempo e gente. Nem sempre é simples. Vemos que os empreendedores acabam construindo a Teoria de Mudança em momentos-chave. Ou quando o negócio está crescendo e precisa de mais recursos para engajar. Ou quando precisamos responder: Será que, realmente, geramos as mudanças que queremos? Para planejar, tirar uma ideia do papel, a Teoria de Mudança trabalha muito com o que está nas nossas intenções, no que desejamos enquanto mudanças do mundo. A Teoria de Mudança não tem que ser uma construção vazia. É uma declaração de intencionalidade. Precisamos usar essa intencionalidade como norte, se cobrando e também sendo cobrado. Enfim, ela é um instrumento que responsabiliza o negócio de impacto. Precisamos estar junto e se ajudar. Quem tem mais, pode ajudar a quem tem menos.

Clique aqui e confira na íntegra o webinar “Teoria da Mudança: da estratégia à avaliação de impacto social”.

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