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Favela venceu: a potência da periferia na criatividade e na inovação

27/04/2019

Favela venceu: a potência da periferia na criatividade e na inovação

Um jovem da periferia de Guarujá (SP), que não tem graduação e que começou a publicar vídeos na internet com o que aprendeu num curso técnico de cinema pago com o seguro de vida recebido após a morte da mãe, produz hoje o maior canal de música do You Tube no mundo, o Kondzilla. Essa pode ser uma breve sinopse da trajetória de Konrad Dantas, também conhecido como Kond, 30 anos, empresário, diretor e produtor de clipes, que com suas empresas de produção de conteúdo, portfólio de 400 artistas e seus canais de vídeos com mais de 48 milhões de inscritos, tem mostrado a potência do funk brasileiro das favelas em todos os cantos do mundo. Dos dez vídeos mais assistidos pelos brasileiros na plataforma do Google em 2018, cinco foram produzidos por ele.

Kond esteve no Rio 2C 2019 contando um pouco de como tudo começou e também enaltecendo a força dessa diversidade criativa das periferias brasileiras. Foi com essa criatividade que ele driblou a falta de recursos técnicos e, com muita improvisação e a ajuda de câmeras de fotografia, começou a produzir clipes para os MCs das comunidades de São Paulo. Foi assim que deu visibilidade ao MC Guimê com o instantâneo hit “Tá Patrão”. Sua linguagem encantou o então cantor da banda Charlie Brown Jr., Chorão, que o convidou para gravar um DVD do grupo. Foi um marco na carreira de Kond e também quando percebeu que com esse caminho poderia dar visibilidade a outros jovens artistas.

“Eu sabia que através da arte eu ia conseguir mudar, transformar minha vida e a vida da minha família, sair da periferia e dar uma vida mais confortável para todo mundo. E hoje consigo fazer isso com outros artistas e não apenas com a minha vida”, contou o empresário.

 

Kond fez outros cursos técnicos de cinema e hoje participa como ouvinte de um MBA na Fundação Getúlio Vargas. É diretor da produtora carioca Conspiração, onde já chegou a dirigir clipes com câmeras de cinema de última geração e equipe de mais de 170 pessoas, mas durante a própria palestra mostrou como ainda faz vídeos com câmeras mais simples e celulares com a lente de seu olhar criativo e imprimindo uma linguagem inovadora.

Uma decisão difícil para ele foi em 2016, quando, ouvindo uma observação de um especialista em consumo, apostou que o Kondzilla não iria mais veicular músicas com palavrões, ostentação de armas e objetificação dos corpos femininos. Ao falar dessas novas regras que cunhou de responsabilidade, ele também reconhece e deixa claro que havia ali um movimento estratégico para a expansão dos negócios para atingir novos públicos. Deu certo: em um ano, o número de assinantes mais do que triplicou.

A inteligência de dados está presente nas tomadas de negócio das empresas de Kond, que trabalha com especialistas em Business Inteligence (BI) e Search Engine Optimization (SEO), técnicas que analisam comportamentos na internet e ajudam a ampliar a distribuição e visualização dos conteúdos. O canal KondZilla alcançou 131 milhões de usuários no mundo todo. Até a cantora Madonna assistiu a um dos vídeos de MC Kevinho, um dos astros lançados pela KondZilla Records. Kond também gravou clipes de Karol Konca e os MCs Kekel, Livinho e Boy do Chammes. Como suas produções começaram a ficar requisitadas e caras, foi criado um novo canal, o Novos Talentos, para continuar lançando novidades do funk e garantindo acesso a músicos que não têm como arcar com os custos de uma superprodução.

O empresário prepara agora o lançamento de um canal de conteúdo sobre pessoas, causas e diversidade das periferias brasileiras. Mesmo sem ter um único vídeo publicado, o canal já está com 800 mil inscritos. Os 150 vídeos já produzidos, no entanto, só começarão a ser publicados quando for batida a meta de 1 milhão de assinaturas. “Daqui a pouco”, garante.

Kond reforça que a ideia do novo projeto é mostrar a realidade, a diversidade e a verdade desses artistas. “Essa verdade é deles, não é a do Kondzilla. Eles precisam validar e se reconhecer ali para ser legítimo”, explicou ele, que se reconhece como um sonhador, mas que vê o sonho como uma etapa.  “Acredito que se a gente projetar o nosso futuro, a gente aumenta as chances de alcançar aquele nosso sonho. A gente tem que estar sempre faminto e se alimentando. Sempre procurando novos sonhos e novos desafios”, concluiu.

Sim, Kond, a favela venceu.

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